quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram Mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"

Em tempo: Esta citação é falsamente atribuida a Fernando Pessoa e "corre" na net como tal. Publiquei-a sem ter tido o cuidado de verificar a sua autenticidade. Mea culpa!
Procurei e encontrei uma outra resposta aqui:
"Falsas Atribuições:
""O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."" Não consta em: OBRAS COMPLETAS de Fernando Pessoa : http://pt.wikiquote.org/wiki/Fernando_Pessoa
A tord ou à raison, aparece também como sendo de Fernando Sabino.

A tempo: A velha senhora amiga, sempre atenta, voltou, leu e comenta:
"Desculpe, cara Helena Oneto, mostrei a citação à minha velha amiga - que se gaba de saber mais do 'seu' Poeta que de medicina!!! (Eu só sei que tem em casa uma 'pessoana' de respeito e que a vejo a consultá-la sempre que lá vou). Pois a senhora garante que Fernando Pessoa não escreveu tal coisa: que isso nem é poesia, e que também não é prosa que se lhe possa atribuir. Desculpe lá, mas a senhora é categórica. Por mim, não sei que diga".

Em tempo: A velha senhora tem, como sempre, razão: http://www.pessoa.art.br/?p=98

domingo, 27 de janeiro de 2013

Embaixador Francisco Seixas da Costa



O embaixador Francisco Seixas da Costa deixou ontem Paris a caminho de Lisboa. Um absurdo 'limite de idade' pôs termo às funções do melhor embaixador que Portugal teve em Paris. FSC inovou, incentivou e criou novos conceitos de diplomacia. Fê-lo com profissionalismo, generosidade e brio. A sua carreira de diplomata e o seu contributo como secretario de estado foram brilhantes e coroados de êxitos.

Tive o prazer de ser convidada à recepção de despedida do encantador casal Seixas da Costa que decorreu na embaixada no dia 18 de Janeiro. Foi uma soirée muito simpactica com boa musica e muitos amigos.

No seu excelente blog "Duas ou Três Coisas", Francisco Seixas da Costa descreveu essa despedida no texto que transcrevo:

"Estes têm sido, como é natural, os dias das despedidas, dos amigos e dos conhecidos. É um ciclo por que já passámos outras vezes e que sempre nos dá alguma medida daquilo que, ao longo de cada posto, fomos criando de relação pessoal e profissional. É um período algo "stressante" mas muito agradável, em que nos damos conta de que talvez devêssemos ter passado mais tempo com essas pessoas. Mas a vida é o que é.

Ontem, ao final da tarde, mais de duas centenas de amigos tiveram a amabilidade e a simpatia de afrontar a temperatura negativa e a neve que cobria as ruas de Paris, para virem juntar-se a nós num encontro, não de "adieu" mas de "au revoir". Tive então oportunidade de assumir, perante eles, que nós, os diplomatas, somos uns verdadeiros privilegiados. Menos por aquilo que os sinais exteriores indiciam mas, muito mais, pelas oportunidades que fomos tendo, ao longo desta vida errante, de conhecer gente diferente, muitas pessoas interessantes, oriundas de outras culturas e com diversas perspetivas de vida. Guardamos para a vida amigos de imensas nacionalidades, alguns com quem mantemos relações regulares, outros que fomos reencontrando, outros que cruzamos a espaços, com o email e o facebook a ajudar. Essa é a verdadeira riqueza que se acumula numa carreira como a nossa, a qual, no meu caso, se suspende no final do mês.

Com boa música à mistura - Irene Lima no violoncelo, Adriano Jordão ao piano -, juntámos algumas das muitas pessoas que Paris nos proporcionou o ensejo de conhecer. Sentimos pena por não ser possivel ter conosco todos quantos nos ajudaram a transformar este nosso posto de Paris na bela jornada profissional e humana que foi. Mas cada um sabe bem o que lhe devemos.

Dei comigo a pensar que é muito interessante olhar, em perspetiva, para esse círculo de relações. Os embaixadores são diferentes uns dos outros, nas ideias, na forma de estar, nas opções que tomam. Tudo isso ajuda a defini-los, pela positiva e pela negativa. São medidos no plano profissional, desde logo por Lisboa, mas também pelos diversos setores que se ligam às embaixadas: comunidade, empresários, meios culturais, imprensa e, também, pelos estrangeiros, os outros diplomatas, autoridades e amigos locais de Portugal. Mas são igualmente avaliados no plano humano, pelo que projetam, pelo que dizem, pelo modo como se relacionam. É assim, em toda a parte.

Não conheço nenhum embaixador que, em algum posto, tenha feito a unanimidade. Há quem goste de nós, como haverá sempre quem nos olhe de forma distante, às vezes por nossa culpa, outras por falta de empatia ou por alguns terem sentido que lhes não foi dada a importância a que achavam ter direito. É a lei da vida. No que me toca, e por onde passei, tentei sempre garantir duas coisas. Em primeiro lugar, que os interesses portugueses fossem protegidos: a imagem do país, os interesses económicos, os valores culturais, a defesa dos direitos das comunidades, a manutenção de uma interlocução positiva e eficaz com as entidades locais. Mas cuidei também, sempre, em que, no plano pessoal e humano, fosse possível manter uma relação com as pessoas de onde transparecesse o respeito que devemos aos outros, a cordialidade que há que transmitir na relação com terceiros. Se consegui, ou não, fazer isso, não me compete a mim dizê-lo.

Ontem à tarde, nos dourados quase aristocráticos da rue de Noisiel, não deixei de recordar - talvez para surpresa de alguns - que, ao longo de todo este tempo em Paris, nunca me deixei de considerar embaixador de "todo" o Portugal que por aqui está, desde logo, e a começar, por quantos vieram para França em condições muito difíceis, em registos de tragédia e de aventura humana que o país não tinha o direito de lhes exigir. E, por isso, ao lado de embaixadores estrangeiros, de empresários portugueses e franceses, de figuras gradas da vida social e política parisiense, tivemos o gosto de ter conosco amigos que vieram para França "a salto", que viveram no "bidonville" de Champigny, que por aqui passaram "as passas do Algarve" ou que são oriundos dessa geração. Gente de todas - de todas! - as cores políticas, de todos os estratos sociais. Hoje, simplesmente, amigos.

No final, confesso que gostei muito que a última música, escolhida e interpretada pelo Adriano Jordão e pela Irene Lima, tivesse sido de Fernando Lopes-Graça. Uma canção popular transmontana".



Francisco Seixas da Costa deixa muitas amizades em França. Tenho o privilégio de ser uma delas.
Bien à vous, mon très cher Ambassadeur!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Paris hier et aujourd'hui

La circulation s’annonce difficile ce lundi en Région parisienne en raison des chutes de neige.

"Quatorze départements de l’Ile-de-France, du Centre et des Pays de Loire, étaient encore placés ce lundi matin en vigilance orange neige et verglas, a annoncé Météo France. Les conditions de circulation pourraient devenir rapidement très difficiles sur l’ensemble du réseau. la vigilance orange a été maintenue pour Paris et la petite couronne (Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis, Val-de-Marne) ainsi que pour la Seine-et-Marne, les Yvelines, l’Essonne et le Val d’Oise. En fin de nuit l’épisode neigeux devait concerner l’Ile-de-France".



O Louvre como nunca o viu



sábado, 19 de janeiro de 2013

Chama-se FMI


"Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual*. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.



Chama-se FMI.

Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.

Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...


É o internacionalismo monetário!

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com o José Cacila que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio 'Roulant' preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma 'Graciv Morn' (??) de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...


Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto".

*Como sugere um amigo, este FMI, à quelques détails près, continua actual.

Inquietação



Ah! se todas as minhas inquietações fossem como esta....

Esta noite















quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

2013 - année de (ma) chance!



"Cette année vous rend combative et stratège. Vous serez celle qui sait s'approcher de la personne qu'il faut, se lancer sur le créneau porteur, manipuler en douceur, anticiper... Neptune vous donne du nez. Et Pluton vous rend coriace (née avant le 7 mai) : c'est le moment de prendre votre revanche ou de prouver qu'il n'y a pas de mission impossible pour une Taureau motivée. Pluton évoque aussi une personne bien placée qui vous pistonne ou vous tend la main. Il y a même une possibilité de gains faciles : s'il y a un filon rentable, un contrat lucratif ou un créneau rémunérateur, on vous trouvera juste là !Côté perso L'année sera « so romantic ». Idylle magnifique, affinités délicieuses ou engouement platonique ? Il est rare qu'un signe aussi pragmatique que le vôtre se prenne à rêver, mais ce sera le cas cette année, surtout pour le premier décan. Le deuxième décan préférera les attractions fatales et les attirances un peu folles. La passion et les secrets d'alcôve sont l'apanage de Pluton, qui ne vous lâchera pas. Le dernier décan devra ses moments les plus tendres à novembre et décembre : le meilleur pour la fin...

Vos jours heureux Février, mai et novembre font de vous des « super Taureau », parce que Mars et Pluton décuplent force de conviction, motivation et ambition. Cet été : période de veine pour qui suivra ses intuitions. Côté coeur : le romanesque dans tous ses états touchera le premier décan en janvier, début mars, durant la première quinzaine de juin et la seconde de juillet, et courant novembre. Vibrations irrésistibles pour le deuxième décan durant la seconde quinzaine de janvier, fin avril-début mai, en août et durant la seconde quinzaine de novembre.
"

J'attends toujours la personne "bien placée"...
"Gains faciles(?)": serait la première fois!
Côté coeur : rien de romanesque jusqu'ici. Vivement février!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

União ?


"Les députés européens ont exprimé mardi 15 janvier leur soutien à l'intervention française au Mali en regrettant l'incapacité de l'Union européenne à agir collectivement pour assurer la sécurité à sa porte".
(...)
"Un Etat membre a demandé un soutien mais nous n'avons pas de forces de défense européennes", a réagi la haute représentante de l'UE pour les affaires étrangères, Catherine Ashton, avant d'annoncer l'adoption prochaine par l'UE d'un plan de soutien logistique et humanitaire à Bamako." (...) ...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

L"'Egoïste"


"Magazine of cerebral chic is so exclusive it takes years to produce but sells out in days"

"The first issue of Egoïste was published in November 1977 under the leadership of Nicole Wisniak.
The most remarkable photographers and writers of their time have contributed to the 16 issues that have been published to date with a whimful periodicity. Egoiste is the subjective dictionary of an era. Known for its layout, its iconic images such as the nude of Yannick Noah by Richard Avedon or the portrait of Ava Gardner by Helmut Newton, and its advertising stories conceived and produced exclusively for the magazine by Nicole Wisniak, Egoïste has offered a space of freedom to great writers such as Francoise Sagan, Jean d'Ormesson or Bernard Frank. The publication of each new issue is celebrated by the international press and they are collected with love by a great number of fans." e
goistecom

 

L'Egoïste revient en mai 2011:
"Journal qui aime à se définir lui-même comme "spasmodique", Egoïste s'est offert le luxe de disparaitre de la circulation pendant plusieurs années pour mieux revenir et affoler les amateurs. Le dernier numéro, à peine sorti, serait déjà en rupture de stock...

Cinq ans, c'est le temps qu'il aura fallu à sa créatrice, Reine-Nicole Wisniak pour offrir à ses lecteurs pointus, exigent (et patients) le 16e opus de l'aventure. 

Créé à la fin des années 70, Egoïste a toujours su tracer sa propre voie dans le luxe et la mode, notamment grâce à une liste de collaborateurs qui parle d'elle-même : Richard Avedon, Paolo Roversi, Ellen von Unwerth, Alexandre Jardin, Jean d'Ormesson ou J.M.G. Le Clézio pour la dernière parution. Mais pas que.
Objet littéraire et publicitaire atypique (les publicités des annonceurs sont repensées et imaginées par la fondatrice), Egoïste est le terrain de jeux de l'imagination et de la créativité de tous ses contributeurs. Edité à seulement 25.000 exemplaires, ce 16e numéro est donc bien parti pour rejoindre ses illustres prédécesseurs. On se souvient forcément des couv' avec Ava Gardner, soeur Emmanuelle et même Jean-Paul Sartre pour ne citer que les plus célèbres.

Pas facile à appréhender et très élitiste, Egoïste a fait de cette étiquette de revue snob et ultra-branchée sa force et son intérêt. Devenue revue collector et de collection, c'est cette culture de la contemplation, ce refus de la tendance et ce rythme personnel qui a fait se presser Warhol, Adjani ou Lindbergh au portillon. Bon retour Egoïste." Le Parisien

lui s'en va

Olhos que nos veem...

corações que nos sentem

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"Os amigos não morrem"



António Lobo Antunes lembra Ernesto Melo Antunes. O melhor presente neste dia de reis: 

"Os amigos não morrem: andam por aí, entram por nós dentro quando menos se espera e então tudo muda: desarrumam o passado, desarrumam o presente, instalam-se com um sorriso num canto nosso e é como se nunca tivessem partido. É como, não: nunca partiram. E assim o Ernesto e eu voltamos a estar juntos em Santa Margarida, em África, em Lisboa, em Sintra, torna a emprestar-me a chave do apartamento em Paris, na rua Saint Dominique, no qual me enfiava umas temporadas a escrever e a fazer maldades, invejoso da estante cheia de livros da Pleiade e passeando sob os castanheiros dos Inválidos durante o verão indiano. De modo que eis-nos juntos outra vez, entre silêncios, aberturas indianas do rei e longas conversas em que ele falava muito mais do que eu, àcerca de literatura, filosofia, política. Ou seja eu falava pouco

(sempre falei pouco)

não discuto nunca, quando não estou de acordo calo-me. Se estou de acordo calo-me também. Admirava-lhe a coragem, a profunda rectidão, a honestidade. As suas ideias mantiveram-se as mesmas desde a guerra, numa fidelidade de princípios que me agradava, eu que não tenho ideias, tenho iluminações, não racionalizo, encontro. As nossas diferenças uniam-nos. Ele queria mudar a sociedade; eu, mais modesto, apenas queria mudar o mundo. Com uma caneta. E depois, ainda que não o confessássemos, vivíamos ambos mortalmente feridos de compaixão e ternura, muito bem disfarçadas, claro. Achávamos nós que muito bem disfarçadas. Já doente, por exemplo, preocupava-se imenso com uma operaçãozita de cacaracá que me tinham feito à língua. A delicadeza da sua solicitude era sempre elegante. Isto também admirava nele: a elegância, o pudor, a paixão da amizade, não mencionando o facto de ter sido sempre implacável com a ausência de carácter, a mentira, a cobardia. Um homem profundamente bondoso e, em boa parte por culpa sua, frequentemente mal entendido. Não vou, por respeito ao seu pudor, mencionar coisas íntimas, olha, vou mencionar uma, possuía uma grande capacidade de tolerância e um genuíno amor aos homens que a postura severa e a austeridade dos seus modos ocultavam. O Ernesto foi sempre uma pessoa justa eu que lia a palavra desde menino, justo, e só a compreendi totalmente à medida que o fui conhecendo. Postura severa: desfez-se inteira uma tarde, ao propor-me

- Vamos a Tavira?

e, após uma longa pausa

- Fui feliz lá, na infância.

E fomos a Tavira, ele, eu e o menino que de repente saltou do Ernesto e nos passeou na cidade no entusiasmo das lágrimas contentes, com o Ernesto a tentar calá-lo numa pressa envergonhada

- Desculpa

embora quanto mais o camuflasse maior ele aumentava de tamanho, quanto mais o cegasse no interior dos óculos mais ele via, o Ernesto

- Desculpa

aflito com a criança que morava nele, aliviando um pouco a dor de profundas raízes de um homem atormentado pelos seus demónios secretos. Diziam-no esquivo e fechado: sempre achei o contrário. Bastava olhar. O doutor João das Regras dirigindo-se ao povo de Lisboa:

- Olhai, olhai bem mas vêde.

Isto no génio de Fernão Lopes, claro. Bastava ver. Eu para o Ernesto

- Tavira é mais bonito que Paris, não é?

e o cigarro a responder por ele

- É.

E é de facto: onde nos sentimos felizes é a nossa terra natal. E notei então que para aquele sujeito, ao contrário do que sucede à maior parte das criaturas, o amor era mais do que prazeres breves e localizados. Trinta anos de amizade sem uma única mancha. Ao contrário também do que muitos supõem o Ernesto não era um civil fardado: era profundamente militar no sentido em que o meu avô o foi até à morte e se orgulhava disso: no sentido da servidão, da camaradagem e do orgulho. Sempre me irritou ouvir falar mal da tropa: a melhor recompensa que recebi na vida consiste no amor dos meus soldados, na estima dos oficiais com quem privei. Em Angola, o Melo Antunes era adorado e respeitado. Pela sua autoridade natural, pela sua alma generosa e, perdoem-me a má criação, pelos seus colhões. Ao chegarmos ao Ninda, um lugar horrível, preveniu-me

- Pendura a pila na arrecadação mas guarda os colhões

Espero tê-los guardado, não estou certo, mas ele conservou os seus. Escutei diversas vezes

- O nosso capitão tem-nos no sítio

e toda a vida os teve no sítio. Na doença, cujo fim ele sabia, nenhuma queixa, nenhum lamento, nenhuma revolta: sofreu imenso com uma dignidade absoluta. Acompanhou-me, já enfraquecidíssimo, ao enterro do meu muito querido José Cardoso Pires. Ao sairmos do cemitério um senhor importante perguntou-lhe

- Como vai, meu caro Melo Antunes?

e ele, que se amparava ao meu braço, largou-me, dilatou-se dois metros e respondeu num sorriso

- De vento em popa.

Um único comentário para mim, ao amparar-se de novo ao meu braço

- Venho de sepultar um amigo e pergunta-me como é que estou?

E assim fomos até ao automóvel: de vento em popa. Conforme eu, ao acabar este texto, sabendo que vou tornar a perdê-lo. Mas há-de existir por aí um braço e, tornando-se necessário, dilato-me dois metros. Não: dois metros dilatou-se o capitão. Dilato-me meio metro

- De vento em popa

porque sei que ele me há-de amparar."

António Lobo Antunes
"Visão", 23 de Novembro de 2012

domingo, 6 de janeiro de 2013

A tempo



A "velha senhora" voltou, não gostou do que leu e replicou:

"A velha senhora comoveu-se com o acolhimento no 'coro' mas, como não podia deixar de ser, lá teve que refilar:
magistralmente - o coro - dirigido?desculpe amiga helena mas duvidoa amiga jov'helena sacaduraconcorda bem comigo estou segurapois ferozmente independentesnão somos nem seguimos dirigentes
com elas e a sorrir vamos vencer
rimalho velha a vida que inda acena


amor ternura as armas da mulher
também não sou poeta e tenho pena"

As inconstitucionalidades do OE




Há dias, disse-me um amigo: "Já pensou a tragédia de um país que tem dois palácios com nomes como Necessidades e Ajuda e um outro que é mais famoso pelos pastéis do que por aquilo que lá (não) se faz?"

sábado, 5 de janeiro de 2013

Mulheres de armas


Esta casa orgulha-se de ter por amiga mais uma poeta e mulher de armas. Não desfazendo as poetisas Isabel Seixas e Era UMA VEZ, a "velha senhora", sempre actual, une-se ao coro magistralmente dirigido entoado pela minha querida amiga Helena Sacadura Cabral: 
"mulheres de armas quisera
juntar-me eu a todas vós
não fora só esta mera
anónima e velha voz
mas sobra-me afeto e amor
que faltam em meu redor 

bom ano boas amigas
que temos amor pra dar
até a tristes formigas
que o ano querem lixar
às armas contra a desgraça
contai com velha de raça"

 A "velha amiga" voltou e acrescentou:

"A velha senhora, que lê mais poesia do que bebe Alvarinho (e não bebe pouco), telefona-me hoje, histérica de admiração por poema que acabava de descobrir e me pedia que enviasse às suas amigas da Casa da Lapa (mas precedido deste seu 'recado'"
'voz torta a minha que importa

rasgai-me esta rimalhice
maria teresa horta
mulher de armas melhor disse
poema de resistência
de amor contra a violência'):

2013 

Há sempre um acreditar
maior, levando-nos
na teima a prosseguir 

Firmados nas raízes fundadoras
prontas a tecer a ventania
feita de ideais e de porvir
de vontade, de sonho e poesia

 Pois existe um voo e um lutar
uma batalha pronta a impedir
a violência, o medo, o proibir

Há sempre um acreditar
maior, levando-nos
na teima a resistir

Exigindo o direito a inventar
um outro futuro a construir
apesar do vender e do roubar

 Pois existe uma constância
em desagravo, outros modos
de amar, outra maneira
a fazer da vida um canto aberto
E da liberdade uma bandeira.

 Maria Teresa Horta,
Lisboa, 30/Dez/2012

com os votos de um bom ano.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

depois do lançar dos foguetes, apanham-se an canas

foto de Tim Laman

Não gosto do segundo dia do ano porque, depois dos cadeaux e dos réveillons opíparos regados com pétillants votos de santé, tudo recomeça como antes: as “gueule de bois” que se traînent devido à indigestão de foie gras e à ingestão da lista, cada vez mais longa, dos aumentos (agora plurianuais, crise oblige) da electricidade, do gás, da gasolina, do preço dos transportes, dos selos, dos cigarros, dos seguros, etc, e às embouteillages no periférico, au monde fou nos cais do metro, às bichas intermináveis nas paragens dos autocarros mas, sobretudo, ao regresso au travail com um "bonjour-vivement-vendredi". Desejamos “bonne année” aos vizinhos e colegas, sabendo de antemão que pouco ou nada será melhor. Mas fazemos semblant... este ano, et pour cause, mais que no passado.
E por passado, mas sempre presente, foi na madrugada de 2 de Janeiro de 1966, que a minha mãe, com 41 anos, fechou os olhos para sempre.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013


O estrondo dos foguetes não perturbou a minha passagem para 2013. Não faço grandes projectos para não ter grandes desilusões. Contentar-me-ei de viver cada dia o melhor que puder e souber. Haja  saúde e alegria para enfrentar o que vier. E amor. Amar a vida, amar os outros e, sobretudo, amar-se a si próprio. O que desejo para mim é o que vos desejo a todos, caríssimos leitores. Bonne Année!