A primeira vez que o meu pai me levou ao Martinho da Arcada lanchar tinha eu oito ou nove anos. O Martinho foi sempre o café preferido do meu pai e ponto de encontro com o Pedro Piloto, quando este se encontrava em Lisboa entre duas viagens (o Pedro era piloto da Marinha mercante), o Santana e outros amigos do "Bloco". O pai gostava de passar os serões em casa a fazer soldadinhos de chumbo ou a concertar armas antigas e outras velharias ou, para desgraça dos nossos ouvidos, tocar violino, mas de vez em quando, dizia: "vou ao Martinho e já venho", e ía, contente, na "Vespa" para o Terreiro do Paço.
Há semanas, ao fim da tarde, a minha irmã e eu fomos lá beber uma água das Pedras para ajudar a digerir um almoço à portuguêsa. Foi um momento privilegiado que passámos a admirar a vista que se desfruta das arcadas. No restaurante vazio, Fernando Pessoa esperava os clientes para jantar...
Estas fotos são dedicadas à Isabel, à Margarida Pereira, à Helena Sacadura Cabral e ao primo Francisco.
Nesse fim de tarde calmo e morno pensei que gostava de morrer em Lisboa