sábado, 12 de junho de 2010

O primo Francisco

Berta Oneto, irmã mais nova do meu avô António e da minha tia Mariana, nasceu por volta de 1900, casou com Agapito Gomes Nunes de quem teve dois filhos, João Miguel e Mário, faleceu com vinte e poucos anos.  A tia Berta era filha de Miguel Luís Oneto e de Engrácia de Mello avós do meu pai e tios Luísa e Fernando, da prima Maria do Carmo e dos primos João Miguel e Francisco Oneto Nunes. 

A 7 de Junho do ano passado, dias antes de um almoço de familia ao qual, infelizmente, não pude ir, o primo Francisco escreveu-me:

"(...). Eu também me confesso bastante entusiasmado, pois a história deste encontro é, em si mesma, um esplêndido exemplo do imprevisto que sempre pontua a nossa existência e nos torna abertos ao devir do mundo e aos outros. Infelizmente, não sei tanto quanto desejaria acerca dos nossos antepassados oitocentistas, mas há pistas interessantes para serem seguidas. Estou inteiramente de acordo consigo quanto à importância do almoço gentilmente organizado pela Prima Maria Helena, de cuja avó – a Tia Mariana – me recordo de visitar a casa do meu avô e dos meus pais, na Avª João Crisóstomo (e como mudaram as Avenidas Novas desde a minha infância…). Mas mais interessante do que a mera ressonância das minhas memórias, é a possibilidade de sondar a memória das primas de idade mais avançada. Lamentavelmente, muitos cujo nome me era muito familiar já partiram, como o seu pai, Joaquim Humberto. Ele ia mantendo contactos regulares com o meu tio João Miguel, e este servia de Hermes, mensageiro… e ia contando lá em casa as notícias da família, falando de pessoas que eu não conhecia, mas com quem sabia ter laços de consanguinidade… E também ele partiu. [....). O meu pai, que perdi há cinco anos, também falava bastante do seu primo Joaquim Humberto e do pai deste, o “Tio António”. Mas aqui, infelizmente, a minha memória pouquíssima coisa conservou. Mas é bom imaginar que pela memória dos vivos nos poderá chegar ainda uma ténue corrente de imagens e histórias interessantes acerca do nosso trisavô e dos seus cinco filhos… Ou, pelo menos, da minha avó Berta Oneto, uma mulher tão jovem e bela ceifada pela tuberculose, deixando dois filhos ainda bebés – o meu pai, o mais novo, com apenas dois anos…

Também me sinto muito feliz por saber que a inquirição das origens é uma aventura partilhada por vários ramos da árvore dos Onetos.

Ah!... Então gostou do anjo do mausoléu Oneto? Eu achei-o fabuloso, na sua graciosa beleza andrógina… e algo na figura ecoou uma ressonância da Irmandade Pré- Rafaelita… Mas qual a relação dos Onetos sepultados neste cemitério monumental de Staglieno, com os demais? A pesquisa complica-se um pouco quando se descobre na net que os registos de entrada de emigrantes italianos feitos logo ali na baía do Rio Hudson, na Ilha de Ellis, registam a chegada de cerca de 300 Onetos entre 1880 e 1920. Alguns vêm de outras regiões distantes de Itália, mas há vários de Chiavari – a terra de origem do nosso Trisavô António Oneto – e de outra(s) localidade(s) dos arredores de Génova.

Mas muitos anos antes, em 1705, casava no México Joseph Oneto com Andrea Maria de Monteverde. E há vários Onetos no Brasil, na Argentina… Enfim…
Francisco Oneto Nunes"

4 comentários:

  1. Olá Helena,

    Que primor de carta. Há muito não lia uma tão detalhada e bem lembrada. Mas enquanto a lia substitua os nomes, apelidos e sobrenomes e via a história se repetir com muita semelhança, refiro a maneira que Francisco conta dos que conhece pelas histórias que ouvia. Reconhecer a trajetória do prórpio nome.
    Triste constatar que hoje certas tradições não sejam mantidas. A memória nos guia a direção.

    Beijos e sucesso.

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  2. Cara Selena,
    Por essa razão transcrevi a mensagem que o Francisco me mandou para a partilhar com a minha familia e alguns amigos mas também para deixar este testemunho às milhas filhas e sobrinhos.
    Fico contente por saber que também gosta de histórias de família.

    Gostei muito do retrato da sua filha e do texto que o acompenha. Sei que tem muitos e bons amigos que lhe querem bem!
    Um abraço amigo.

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  3. Cara Helena
    Muito obrigado pela sua sensibilidade e gentileza, que muito me tocam.
    A minha avó Berta revela-se-me nesta fotografia como uma figura misteriosa e encantadora. Não é só o enigmático sorriso de Gioconda. É também o coelhinho. Não sei se era bicho de estimação e tinha um nome (acredito piamente que sim...) ou se foi o acaso das circunstâncias que levaram à sua inclusão na fotografia. Para mim, no entanto, é um testemunho de ternura e por isso mesmo, desde há muitos, muitos anos, que me incompatibilizei com o uso culinário deste bicho (também deve ter ajudado o facto de ter crescido com os desenhos animados do Bugs Bunny, alvo de grande simpatia também por parte do meu pai, o meu primeiro amigo...) - as tais coisas "que a razão desconhece"... mas só aparentemente! Aparentemente, porque acredito que é possível uma compreensão dos símbolos e das imagens que nos moldaram e com as quais nos identificamos, sem recorrer ao psicanalista. Creio que a demanda das nossas próprias raízes e dos nossos antepassados ajuda a uma melhor compreensão de nós próprios, mesmo que nunca alcancemos nenhuma verdade definitiva nem mesmo resultados concretos. Mas se abrirmos de par em par as portas da fantasia e deixarmos que esses símbolos e imagens nos iluminem, já valeu a pena. É como a demanda do Graal: não é a finalidade (o objecto em si, que é uma aparência...) dessa demanda que devemos almejar. É a própria busca que é, em si mesma, iluminação. Como a viagem do salmão subindo a corrente...

    Um Abraço

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  4. Uma foto absolutamente maravilhosa!
    Muito obrigada por partilhar.

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