domingo, 14 de fevereiro de 2010

A casa de Macau

Tenho una vaga ideia da nossa casa da Estrada da Vitória mas lembro-me muito bem dos tufões (do chinês tai-fung) que por là passaram! Voava tudo até as cadeiras em ferro do jardim! As enormes árvores de cânfora que bordavam a casa, partiam-se ao meio deixando um cheiro que tanto gosto e que ainda hoje guardo. Também me lembro muito bem dos casacos de seda muito quentinhos que a Isabel e eu temos vestidos (a foto está muito estragada mas é a única que tenho). O meu era verde e o da minha irmã amarelo. Estes casacos foram a única chinesice que tivemos!

4 comentários:

  1. Cara Helena
    A fotografia tem uma luminosidade mágica do lado direito. E o eixo central vertical cauciona esta leitura, como o eixo da grande roda que nos leva pela vida como... entre outras coisas e processos, como uma acumulação selectiva de memórias, pela sucessão dos estados historicamente estruturados do nosso sistema nervoso. Efeito biográfico. O album fotográfico é a iconoteca da memória familiar.
    Abraço

    Francisco

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  2. Obrigada Francisco, as suas palavras confortam o meu desejo de partilhar, sobretudo com a família, o que me resta na memória dos melhores anos da minha infância. Os anos que vivemos em Macau foram, para mim, os mais felizes que passámos com os meus pais. A nossa vida era pautada por descobertas de um novo mundo fascinantem e de uma vida familiar unida e feliz. Apesar dos multiplos incidentes com a China comunista, os meus pais não deixavam transparecer qualquer inquietude. A Mãe foi colocada na escola mixta de Macau e pode continuar a lecionar que era o que ela mais gostava de fazer.
    Tudo se festejava, aniversários, primeiras comunhões, casamentos, baptisados, partidas ou chegadas de novos oficiais, etc. Os natais eram magicos! As arvores de natal eram "enormes", enfeitadas com luzes que piscavam e o menino Jesus dava-nos brinquedos lindos, muitos dos quais mecânicos (tudo comprado em Hong-Kong) que nunca tinhamos visto antes (nem em Lisboa muitos anos depois). Tínhamos amigos chineses com os quais aprendemos a falar cantonês melhor que os nossos pais. Íamos às casas deles e comíamos o que nos davam. Quando aparecíamos em casa com restos de patas de carochas (cozidas) entaladas nos dentes a Mãe dizia sempre "o que não mata, engorda"! Os ultimos 4 anos que vivemos na Ilha da Taipa foram ainda mais excitantes.

    Em 1957 a Mãe adoeceu. Tudo se complicou. Depois de uma grande operação no Hospital de São Januario, os médicos, não sabendo do que ela sofria, aconselharam-na a voltar para a "Metrópole".
    De 1958 a 2 de Janeiro de 1966, a Mãe passou o maior tempo de vida no Hospital du Ultramar, hoje Egas Moniz. Pouco depois da nossa chegada a Lisboa, o tio Fernando foi preso pela PIDE.
    A Mãe foi para o hospital onde ficou muitos meses. O Pai, apesar de trabalhar para a N.A.T.O., foi mobilizado para o Ultramar onde "fez" a guerra em Moçambique, Angola e Guiné. Os quatro filhos mais velhos fomos 'enfiados" em colégios internos.

    O resto já o Francisco sabe.

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  3. Muito obrigado por partilhar estas suas impressões e memórias. Desconhecia em absoluto os contornos da história da sua família - que, tal como no-la revela, tem um tom triste. Fez-me lembrar aquela máxima: "não há paraísos que não sejam paraísos perdidos"...

    E lá vou eu para a neve... Veremos se, no local, terei alguma notícia das actividades do Tio Alfredo...

    Abraço

    Francisco

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  4. Francisco,

    Boa estadia na Serra da Estrela (talvez não muito diferente do que quando o tio a fotografou)!

    Li com muito interesse "O trabalho faz-se Espectáculo" que achei muito interessante e vou começar "O Problema do aleatório".
    Bem haja!

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