sábado, 12 de junho de 2010

Antepassado(s)


"Que antepassado fala em mim?
Eu não posso viver simultaneamente na minha cabeça e no meu corpo
Por isso não consigo ser uma única pessoa
Sou capaz de me sentir uma infinidade de coisas ao mesmo tempo
O verdadeiro mal do nosso tempo é já não haver grandes mestres
A estrada do nosso coração está coberta de sombras
É preciso escutar as vozes que parecem inúteis
É preciso deixar entrar o zumbido dos insectos nos cérebros ocupados com os longos tubos dos esgotos, com os muros das escolas, com o asfalto e com as práticas assistenciais
É preciso que os ouvidos e os olhos de todos se encham com coisas que sejam o princípio de um grande sonho
É preciso que alguém grite que haveremos de construir as pirâmides
Não importa que depois não as construamos
É preciso alimentar o desejo
Deveríamos lançar a alma por toda a parte, como se fosse um lençol estendido até ao infinito
Se queremos que o mundo vá para a frente é preciso estarmos disponíveis
Misturemo-nos, os considerados sãos e os considerados doentes
Eh, vocês os sãos, o que significa a vossa sanidade?
Os olhos de toda a humanidade contemplam o abismo para o qual nos precipitamos
De nada serve a liberdade se não tiverdes coragem de nos olhar o rosto, de comer connosco, de beber connosco, de dormir connosco
Foram os que se dizem sãos que levaram o mundo à beira da catástrofe…"
EXCERTO DE "NOSTALGHIA" DE ANDREI TARKOVSKI

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