
"Este ano não faço o presépio!
O meu presépio de 2012 deixei-o na Índia há poucas semanas atrás.
É esse que quero colocar no centro deste Natal.
Deixei-o num vão de escada de Bombaim.
Não, não fiz fotografias.
Há coisas que não se fotografam, por pudor, por vergonha, por respeito, pela
dignidade humana aviltada; por vergonha de mim, por vergonha da minha
impotência, por raiva.
O meu presépio deste Natal 2012 que deixei na Índia. Não tem vacas de
discórdia, nem burros de teimosia, nem menino, nem Maria, nem José.
Não, não tem. Não tem nada disso. Quando muito tem duas Marias e um José
pequenino.
É, é isso! Tem duas Marias e um José.
Pouco se importando com vacas, por mais sagradas que sejam, ou com burros, por
mais inteligentes que são do que muitos humanos.
As minhas duas Marias e o meu José, estão ali, por causa de alguns camelos…
isso mesmo!
O meu presépio, esse que deixei em Bombaim, esse que existe e é real para além
e por causa de todas as crises, é o presépio que levo dentro neste Natal.
Cabana também não tem!
Era só um vão de escada! Uma das Marias, a mais velha, estava deitada numa
manta, doente! A outra, muito mais nova, 15 anos, estava de pé, olhava a mãe,
olhava-me a mim e esperava o seu milagre. O meu José com os seus 6 anos de
olhos tristes, empurrava o carrinho de brincar e, de vez em quando olhava as
Marias. Uma doente, a outra triste, sozinha numa solidão digna de respeito, em
pé no espaço que o vão da escada permitia ser ocupado, também ela ocupada a
tratar daquele presépio, com a mãe e com o irmão, ali, em Bombaim ou em
Camarate onde estive ontem… ou em qualquer
lugar, onde alguns camelos não deixam que seja Natal."
Estas palavras de Frei Fernando Ventura, que a minha amiga Helena Sacadura Cabral publicou no seu
Fio de Prumo, são o espelho do pão-nosso-de-cada-dia de milhões de irmãos a quem a vida nada deu a não ser
sofrimento e solidão.
Este ano também não fiz presépio. Nem arvore de natal mas tenho as minhas duas filhas comigo o que para mim é um bom Natal.
A todos desejo um bom Natal e muito especialmente às amigas Helena Sacadura Cabral e Margarida Pereira e também à Isabel Seixas e ERA UMA VEZ (a quem agradeço os lindos poemas), à Julia Macias-Valet, à Anamar, a Um Jeito Manso, e aos amigos Francisco Seixas da Costa, Luis Filipe Castro Mendes (mon cher Tim Tim), ao Jorge Pinheiro e ao João Menères que me deu a conhecer o seu lindo Porto e ao meu primo Francisco Oneto que teem a amabilidade de visitar esta casa.