segunda-feira, 19 de abril de 2010

Club Militar de Macau

Era no Club Militar que se reuniam os oficiais em comissão de serviço, funcionarios publicos, expatriados e macaenses,  médicos e padres. Não era raro ver, também, um ou outro "aventureiro" em escala mais ou menos prolongada em Macau.

Ali se faziam grandes festas, jantares, casamentos, chás (para as esposas), batizados, comunhões, enfim, tudo o que se pudesse festejar ou comemorar era no Club Militar. O dress code  era de rigor para jantares de gala e bailes. Lembro-me do meu pai de smoking e da minha mãe de vestido comprido dançarem o "In The Mood" de Glenn Miller. Foi lá que me apaixonei loucamente por Pat Boone e Elvis Presley

sábado, 17 de abril de 2010

O Capitão Oneto

A fortaleza da Taipa


Fomos viver para a Taipa quando o meu Pai foi nomeado comandante do quartel que ficava dentro da Fortaleza. Muitos dos "tropas" que prestavam serviço militar em Macau eram angolanos ou moçambicanos e eram quase todos "impedidos" ao serviço dos oficiais. Na casa da Taipa havia uns quatro ou cinco. O que nos deixou melhores recordações foi o Sabonete, o nosso motorista. Era muito grande e andava sempre de luvas brancas. Conduzía-nos no velho Land-Rover ao cais, que ficava perto da fortaleza, onde apanhavamos a lancha que nos levava para Macau. Tenho muita pena de não ter uma fotografia do Sabonete.

Taipa - Macau -Taipa


As idas e voltas a Macau eram feitas de lancha



terça-feira, 13 de abril de 2010

Chegada à Taipa

No jardim

A Mãe
Os cinco irmãos e a Zinha (uma amiga nossa que andava sempre de vestido e sapatos imaculados). Excepto o António que tem os sapatos de ir à caça às cobras, temos todos calçados sandálias de pele de camelo compradas em Port Said numa escala do "Timor". Estas sandálias duraram anos. As minhas, quando me deixaram de servir, ainda fizeram muitos kilómetros nos pés do António!

domingo, 28 de março de 2010

A Casa da Taipa

Antes de serem  "casas-museu", as casas coloniais da Taipa eram como se pode ver nesta fotografia tirada em  1978. As manchas escuras da humidade e os vasos com flores na varanda parecem ser os mesmos que la estavam 20 anos antes! A sala, a casa de jantar, os quartos eram enormes. Tudo era grande! Dormíamos com as janelas abertas e havia mosquiteiros em cada cama. O Pai ía todas as noites dar-nos um beijinho e certificar-se que estávamos bem cobertos.
Em frente às casas havia uma praia de areia cinzenta (nesta fotografia vê-se que a praia entretanto desapareceu).
As árvores seculares que bordavam a Avenida da Praia ainda lá estão.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Casas-Museu da Taipa

Avenida da Praia, Taipa

"A Associação de Classificação das Oito Paisagens de Macau seleccionou o conjunto constituído pelas Casas-Museu da Taipa, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Biblioteca do Carmo com os jardins que lhe estão adjacentes. Esta área forma uma das oito paisagens mais características de Macau. As Casas-Museu da Taipa representam moradias típicas características da Arquitectura Macaense de matriz portuguesa. Em tom esverdeado, são consideradas uma das relíquias patrimoniais e culturais das Ilhas.

Foram construídas em 1921 para residência dos funcionários superiores das Ilhas, oriundos de famílias macaenses. Na década de 80, os Serviços de Turismo de Macau recuperaram-nas e, em finais dos anos 90, foram alvo de profundas obras de restauro devido ao seu valor arquitectónico e transformdas nos seguinte espaços museológicos: Casa Macaense, Casa das Ilhas, Casa das Regiões de Portugal, Casa para Exposições e Casa de Recepções. As Casas-Museu da Taipa foram inauguradas em 5 de Dezembro de 1999 sendo, actualmente, administradas pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

Casa Macaense

Trata-se de uma das moradias típicas, de estilo colonial, existentes em Macau, que recorda aos visitantes uma época de certo fulgor luso caracterizada pela frequente afluência ao território de visitantes ilustres ingleses, manchus, mandarins e de comerciantes. Percorrendo a casa, os visitantes podem apreciar o modo como viviam as famílias macaenses de outrora. Mobílias, objectos e decoração característica do início do século XX provêm quer do recheio de casas habitadas em tempos por residentes de Macau, quer de réplicas de objectos originais.

Casa das Ilhas

A Casa das Ilhas é o único museu que mostra a fisionomia e a História das ilhas da Taipa e Coloane. Através dos vestígios históricos, figuras e materiais bibliográficos em exposição, os turistas e residentes podem rever o passado e viver a actualidade das Ilhas o que, com agrado, tem vindo, desde 5 de Dezembro de 1999, a ser salientado pelos muitos visitantes que a procuram.

Os dez temas que mostra espelham as características mais destacadas da sua fisionomia, arqueologia, desenvolvimento histórico, vida actual da população, história dos transportes, templos, construções portuguesas, comida tradicional, desenvolvimento das grandes construções, actividades recreativas e recintos lúdicos, tudo pondo em relevo a História e a realidade actual das Ilhas.

Casa das Regiões de Portugal*

A terceira destas vivendas de dois pisos, que contém trajes típicos de diferentes Regiões de Portugal, mostra aos visitantes a forma de vida e modo de vestir das suas populações. No 2°andar, há dois televisores que transmitem programas de vídeo alusivos ao tema.

Casa de Exposições

Serve de galeria de exposições de arte dos mais diversos tipos, com uma peridiocidade relativamente curta, albergando fotografia, pintura ocidental, cerâmica e vidro, escultura, etc.. Até agora convidaram-se para aí expor, inúmeros artistas locais e do exterior, como de Shangai, Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Polónia e México, com a perspectiva de se dar continuidade ao projecto e se trazerem cada vez mais exposições de fora ao Território.

Casa de Recepções

A quinta moradia, também de dois pisos, destina-se a recepções privadas ou oficiais e actividades culturais ou festivais de culinária.

Com o objectivo de realçar, por um lado, a típicidade da Avenida da Praia e de servir, por outro, o interesse dos turistas, foram aí colocados uma pérgula e um quiosque para que os visitantes possam gozar e apreciar a paisagem que envolve este romântico espaço. Alem disso, em frente de Casa de Recepções foi construído um anfiteatro aberto onde têm vindo a realizar-se diversos espectáculos populares, tais como as Festas do Ano Novo Lunar (Fevereiro), o Dia Internacional dos Museus (18 de Maio), a Festa da Flor de Lótus (Junho), a Festa do Bolo Lunar (Setembro) e a Festa da Lusofonia (Outubro)."
in Direção dos Serviços de Turismo de Macau
* foto de Nico. Foi nesta casa que vivemos de 1954 a 1958

O Centro Histórico de Macau

Na 29ª Sessão do Comité do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), realizada em 15 de Julho de 2005, "O Centro Histórico de Macau" foi inscrito com êxito na Lista do Património Mundial, tornando-se no 31º sítio designado como Património Mundial da China.

O Centro Histórico de Macau é uma área urbana centrada em volta da velha cidade de Macau; inclui oito praças, nomeadamente o Largo da Barra, o Largo do Lilau, o Largo de Santo Agostinho, o Largo do Senado, o Largo da Sé, o Largo de S. Domingos, o Largo da Companhia de Jesus e o Largo de Camões e 22 monumentos históricos que compreendem o Templo de A-Má, o Quartel dos Mouros, a Casa do Mandarim, a Igreja de S. Lourenço, a Igreja e Seminário de S. José, o Teatro Dom Pedro V, a Biblioteca Sir Robert Ho Tung, a Igreja de Santo Agostinho, o Edifício do Leal Senado, o Templo Sam Kai Vui Kun, a Santa Casa da Misericódia, a Igreja da Sé, a Casa de Lou Kau, a Igreja de S. Domingos, as Ruínas de S. Paulo, o Templo da Na Tcha, a Secçaõ das Antigas Muralhas da Defesa, a Fortaleza do Monte, a Igreja de Santo António, a Casa Garden, o Cemitério Protestante e a Fortaleza da Guia (incluindo a Capela e Farol da Guia). Esta lista inclui não apenas os vestígios arqueológicos da primeira universidade de modelo ocidental do Extremo Oriente, o Colégio de S. Paulo, edifícios que ainda funcionam de acordo com os seus fins originais, tais como o primeiro teatro de estilo ocidental e o primeiro farol moderno na China, mas também exemplos de residências de mercadores dos finais da dinastia Qing.

O Centro Histórico de Macau é o produto do intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente ao longo de mais de 400 anos, e é presentemente o mais antigo, o mais completo e o mais bem consolidado conjunto arquitectónico de raiz europeia que se mantém intacto em solo chinês."
In Direção dos Serviços de Turismo de Macau

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Rickshaws de Macau


O Bébé e eu radiantes!

Muitos dos rickshaws dos anos 50 eram puxados por chineses muito magros e eram tão coloridos e confortáveis como os modernos de bicicleta que ainda se vêem. 

A casa de Macau

Tenho una vaga ideia da nossa casa da Estrada da Vitória mas lembro-me muito bem dos tufões (do chinês tai-fung) que por là passaram! Voava tudo até as cadeiras em ferro do jardim! As enormes árvores de cânfora que bordavam a casa, partiam-se ao meio deixando um cheiro que tanto gosto e que ainda hoje guardo. Também me lembro muito bem dos casacos de seda muito quentinhos que a Isabel e eu temos vestidos (a foto está muito estragada mas é a única que tenho). O meu era verde e o da minha irmã amarelo. Estes casacos foram a única chinesice que tivemos!

Macau (5) Aniversários

Nesse 8 de Maio de 1953 festejaram-se três aniversàrios d(a)os noss(a)os amig(a)os do colégio. Dois fizeram 2 anos e o terceiro 3. O meu irmão António (o primeiro à esquerda) tinha feito 3 anos no dia 5. O Bébé (no fundo à direita e ainda ao colo) não tinha ainda 1 ano. A minha irmã Isabel e eu (que ia festejar os meus 4 anos no dia 16) andávamos sempre vestidas de igual. Mais tarde, bem tentámos protestar e apesar das "cenas incríveis" que eu fazia, andàmos, até aos 10 anos, sempre de igual.

Macau (4) Santa Rosa de Lima

O colégio de freiras das "elites" de Macau. Ao fundo, o Hospital de São Januário onde nasceu o Luís. Mas Macau era também o que se pode ver aqui.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O "chinês"

A Mãe e o Luís
O Luis nasceu a 9 de Junho de 1953 com 4,6Kg ! Foi e é o mais "forte" dos cinco.

O Pai e o Luís nos jardins da casa de Macau

domingo, 17 de janeiro de 2010

Macau (3)

25 de Outubro de 1953
Duas celebrações : baptizado do meu irmão Luis (com 4 meses) e os 30 anos do Pai. O Luis foi o ultimo filho que os pais tiveram. O Pai gostaria de ter muitos mais. A Mãe não. Cinco filhos em menos de 7 anos!

Macau (2) em 1952

Leal Senado. O meu pai é o primeiro a contar da esquerda
 
Estas devem ser as primeiras fotografías do meu Pai (fato e oculos escuros e meias brancas...) em Macau.

Macau

Em 1952, "em cima" dos acidentes das Portas do Cerco, fomos viver para Macau onde o meu pai fora colocado em comissão militar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Açores

Um pai orgulhoso!
Não me lembro absolutamente nada da nossa estadia nos Açores onde, em Julho de 1951, nasceu o meu irmão Joaquim Humberto, o 'Bébé'. Talvez por ter sido o filho mais difícil a alimentar, o mais lento a começar a andar, o mais "esquesito" mas de longe o mais "esperto" dos irmãos, o bébé ficou Bébé até hoje! A Mãe dizia que ele tinha todas as características dos ilhéus...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Faial


O meu pai com o António ao colo, eu, a Avó, a Isabel e o "motorista" na Ilha do Faial em 1950. No ano seguinte nasceu o Bébé.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

As meninas

Helena e Isabel em 1950

Chapéus

Os meus Pais conheceram-se no Liceu Pedro Nunes e casaram a 28 de Dezembro de 1946. 

Pouco tempo depois, a tia Luísa, que também conheceu o marido no Pedro Nunes, casou com o tio Túlio.

Os casamentos celebraram-se na Igreja de Santos-o-Velho. Á direita noiva, a minha muito bonita e sempre elegante prima e madrinha Maria do Carmo. Elegantíssimos também a Alice (de turbante) e o Santana (de bigode).

O meu Pai

Croquis feito pelo Santana em 1948

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A avó Emília

Só me lembro da avó Emília de cabelos brancos. Era uma senhora bonita, redondinha e muito dada a terços e missas na Igreja de Santos-o-Velho onde tinha a "sua" cadeira.
O avô António, que não cheguei a conhecer, era um homem de bem que impunha respeito, mas dizem que lá em casa quem mandava era a Dona Emília !

A Avó contava sempre muitas histórias dos filhos. A que mais me fazia rir era aquela que, em pequeno, o meu pai se despiu todo no eléctrico porque não queria ir com ela á Baixa fazer compras!
Segundo se dizia, o meu Pai era tão mau de aturar que foi várias vezes expulso da escola.
Foi por essa razão que o 'internaram' de castigo no Instituto Nun'Alvares em Santo Tirso. Estas duas fotografías imortalizam a chegada do Bétinho ao colégio dos Jesuítas acompanhado pelos pais e a prima do Porto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Basílica da Estrela

Foi qui que fui baptizada. Foi daqui que o meu Pai saiu para o Alto São João onde descansou dez anos no espaço reservado aos antigos combatentes.  Agora, está nos Prazeres ao lado da minha Mãe como sempre desejou.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Museu de Arte Antiga

O Museu de Arte Antiga faz parte das melhores recordações que tenho de miúda. Uma vez por semana, à tarde, depois da escola, íamos aos ateliés de artes manuais que tinham lugar nos jardins do museu.  Passàvamos horas a pintar, desenhar,  fazer vasos em barro e outras  'maravilhas' que oferecíamos orgulhosamente à nossa Mãe.

O Jardim da Estrela

O Jardim da Estrela* era o "nosso" jardim. Em miúdos íamos todos, os cinco e o Ritz (o setter irlandês mais lindo do mundo), radiantes da vida, brincar para lá. Subíamos a rua dos Remédios, até à rua da Lapa voltávamos à esquerda, seguíamos os carris do eléctrico até ao largo da Estrela. Passavamos, a correr, à frente do Hospital Militar (onde eu nasci) e que todos nós conheciamos muito bem pois era là que aterravamos quando havia necessidade de tratamento médico especializado... Lembro-me muito bem dos "bibes" brancos com folhos de bordado inglês que nos enfiavam à minha irmã e a mim quando íamos brincar. Passámos là tardes inteiras felicíssimos.

"Un beau jardin à l’anglaise, dessiné en 1842, peuplé d’arbres magnifiques et de beaux massifs de fleurs. Au centre, un petit lac bordé par un self plutôt bien et pas cher, avec terrasse. Ne pas manquer l’impressionnant massif de cactus et de figuiers de Barbarie. Adoré par les Lisboètes, ce jardin est très fréquenté par les habitants du quartier, notamment le week-end, par les enfants qui y possèdent un espace, les joueurs de boules ou de cartes… On peut y apercevoir aussi quelques perruches en liberté. L’été des séances de cinéma en plein air ou des concerts s’y déroulent ! En face, dans le petit cimetière anglais, fondé en 1717, demeurent, en paix et à la fraîche, bon nombre d’expatriés anglais dont Henry Fielding (auteur de Tom Jones) qui mourut à Lisbonne en 1754, durant une visite de santé !", in "Le petit futé"

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Pai e o "Bloco"

O meu pai com o grupo du "Bloco" em frente à casa da Lapa


Descobri, há tempos, um envelope com fotografias do meu Pai tiradas em 1940/1 e duas folhas de papel já muito amareladas pelo tempo. Uma preciosidade ! o número 1 do jornal o "Bloco" datado de 9 de Outubro (sem indicação do ano em que foi escrito mas penso ter sido no principio dos anos quarenta). Transcrevo aqui algumas passagens :


"9 de Outubro BLOCO  1
Director: Pedro César F. Piloto
Redactor: Joaquim H. Oneto
Eis a Razão
Incumbiram-em de fazer estas linhas, que pessoas de índole benévola chamarão "artigo de fundo". Não vou começar com o estilo habitual, lastimando a pobreza, desejando boa sorte, ou apregoando moralidade. Não tenho dicionário à mão para buscar termos domingueiros; todavia vou dizer alguma coisa sobre a razão de ser desta despretenciosa fôlha, mas dentro do âmbito das minhas fracas possibilidades literárias.
Iniciativa nossa, sem intervenção de individuos estranhos ao nosso "Bloco", a ideia foi acolhida com verdadeiro regozijo.
A boa vontade de todos robusteceu o espírito daquele que pela primeira vez se lembrou de tornar mais intimos ainda, os intimos laços de solidariedade que nos uniam já.
Em redor da amizade que nos cerca, tentamos gravar os nossos projectos, realizações e polémicas, para que, reforçados por esse factor, nos sintamos mais independentes, mais unidos e mais cônscios da afeição que nos liga, formando un bloco indissoluvel. Este jornal é nosso e reduz-se ao nosso âmbito, mas se por ventura chegar até olhos estranhos, lembrai-vos que tudo isto é intimo e familiar e negocios de familia só em familia devem ser estudados.
Gilberto Campos
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N. da R.
O Dr. Gilberto Campos é um colonialista com larga fôlha de serviços e sobejamente conhecido pelas terras por onde tem passado, em especial Estarreja e Mangualde, onde devido às suas aptidões oratórias e ao seu gesto arrebatado conseguiu levar à certa os respectivos indigenas das redondezas, e mergulhar a seta de Cupido nos corações mais arrogantes, ante a inveja das casadas, esperança das viúvas e ambição das solteiras.
Isto é que é ser português... O resto é abobora !
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vida mundana ou o BLOCO VISTO POR DENTRO
Altas Patentes Militares
Segundo consta nos meios bem informados do Ministério da Guerra, vai ser promovido a alferes o nosso amigo J. Santana que conta uma brilhante fôlha de caricaturas. Daqui lhe enviamos uma respeitosa continência.
Vida social
Por passear por jardins públicos até altas horas da noite, apanhou uma terrivel constipação o nosso avantajado amigo Manuel Matos que, felizmente, ja se encontra melhor e disposto para ... outra.
Vida maritima
Tem causado sensação nos meios navais os exames prestados à Escola Náutica por dois dos nossos amigos. Nas provas de Matemática quasi que sabiam os logarìtmos de cor. Em Fìsica.... aquilo foi duas penadas, e no resto até se ofenderam com a simplicidade do caso. Estes nossos futuros oficiais vão ser cumprimentados pelos adidos estranjeiros, e naturalmente promovidos a comandantes honorários, ou a justiça é uma batata. Valentes e conquistadores, não tarda que os vejamos em paragens longìquas a atraìrem as atenções do belo sexo que até os capitães se hão-de morder de inveja.
Oxala não enjoem...
Passado, presente e futuro
Ontem éramos um grupo de rapazes dominados pelas mais extravagantes ideias tão proprias da idade. Vivìamos o tempo do berlinde, da bola de trapos e do Texas Jack. O limite maximo das nossas ambições era possuirmos o boneco mais difìcil daquelas tão longas colecções de jogadores, artistas, clubes, etc.
Esse tempo passou. Hoje impulssionados pela idade, prestes a ultrapassar a fronteira da adolescência, sentimo-nos no denso casulo da vida com um respectivo e limitado pêso de responsabilidades na nossa consciência.É hoje que recordamos os belos tempos que jà não mais voltam.
A nossa ambição já não é o berlinde nem o abafador : é que num futuro relativamente proximo, possamos ocupar um lugar de maior ou menor responsabilidade que consolide a nossa posição perante a sociedade.
Todos os do BLOCO jé têm a sua vida mais ou menos esboçada. Um abraçou a vida artistica (o J. Santana), outro foi seduzido pelos densos mistérios da selva africana, ou por um emprego numa repartição do Ministério das Colónias, outro (penso ser este o meu Pai que foi para o "Técnico" depois de ter feito o 7° ano no Liceu Pedro Nunes), alem do amor, abraçou a Engenharia. Outro é já um conceituado comerciante da nossa praça, e os restantes (um dos quais é o Pedro Piloto, piloto na Marinha Mercante), seguindo as lusas tradições de navegadores, antes preferem andar no mar alto.. que nas bôcas deste mundo.
E assim, mais tarde o destino separará, não a amizade, mas sim a homogeneidade que hoje nos envolve.
Agrupemo-nos pois para os mais diversos fins, e para que esta época tão periclitante da nossa vida possa ser um dia saudosamente recordada.
Recordações do passado, análises do presente e projectos do futuro, é um dos fins destas linhas. O outro é que, reunindo o util ao agradavel (quem não tem uma hora para escrever), arquivemos, melhor ou pior as nossas discussões, projectos e opiniões, para que um dia mais tarde, ao folhearmos estas fôlhas nos reste a SAUDADE.
Pedro Piloto


(no fim da pagina 2) :
"BLOCO" regista em caixa um pick-up e dois discos além duma "genica" formidável para dançar, donde pedimos que nos dêem sugestões para organização de bailes, ou alguém que para eles nos convide.
Consta-nos que há também um grupo de rapazes que formou un club, e um "time" de foot-ball. Porque não irá a rapaziada do BLOCO defrontar-se com eles num desafio amigavel ?  Não seria mais um estìmolo de camaradagem entre nòs e uma maneira de nos darmos a conhecer ?


Para quem não nos conheça (apresentação):
Gilberto Campos
Já foi descrito na primeira página, mas cuidado com ele. Vê-lo e amá-lo é obra dum momento.
Bétinho
De indole pacífica, excepto quando lhe chega a mostarda ao nariz, esse nosso futuro engenheiro, de coração cansado nas lides amorosas, conseguiu enfim a sua reforma. Safa ! já não era sem tempo! Perante a mocidade depravada, as suas teorias choveram mas não molharam. Abusa excessivamente do vinho do Pôrto e do "Pá" Oh pá ! Oh pá ! Oh pá... ( Bétinho é o meu Pai)
Santana
Militarão cem por cento, conta na sua fôlha de serviços várias batalhas ganhas como o bilhar, o sete e meio e o liques. (lembro-me muito bem do Santana. Era arquitecto e tinha uma mulher muito bonita. Morreram os dois, muito novos, num terrível acidente de automovel. Tinham dois filhos).
Manuel Bastos
O seu olhar de criança precoce tem um mixto de oriental aliado a um fìsico de fáquir. Não admira, nasceu no seio da India misteriosa (só lhe falta a flauta e a serpente!). Pena foi que não trouxesse para cá uma odalisca... mas odaliscas só as da tabaqueira e mesmo isso já não há.
Jorge Matos
De parceria com o nosso Santana forma um dueto rival das Andrews Sisters a arrotarem qualquer coisa parecida com um swing...
Manuel Matos
Desde que se apanhou de chapéu novo, fez-se romântico e é vê-lo pelos jardins colhendo flores até um dia ser caçado pelo guarda. Tem cuidado ó Manel que o lagarto dá ao rabo...
Fernando Pereira
Ilustre "Mestre" vai encaminhando os seus discìpulos no caminho da ciência e da respeitabilidade. Se eles soubessem !!! É vulgar na rua cumprimentarem-no respeitosamente de chapéu na mão -"Bom dia Senhor Mestre"- Tem desgosto de não ser mobilisado. Tem orgulho, o peito saliente que até parece um garrafão de cinco litros!...
Manel Alexandre
Sabe tudo e tudo vê. Até parece um almanaque. Fruto duma queda em pequeno, segundo ele diz, ficou uma saliência narigal que até parece uma torneira de pressão. Mas bom rapaz, bom material.
Pedro Piloto
Descrito na penúltima(*) página. Dêem-lhe corda, coisa que ele muito aprecia (lembro-me muito bem do Pedro Piloto. Era bonito e tinha imensa piada. Não sei se ainda é vivo).
N.da R.
(*) O Senhor Comandante Pedro Piloto, ilustre oficial da Marinha Mercante, é um individuo muito conceituado não só nos meios apogìsticamente espiritualistas, mas mais ainda nas sinuosas vias do humorismo. Das frìgidas linhas árticas às temperaturas da linha de Sintra, ele tem espalhado Ciência e Amor. Mas a terra que maiores remanescências deixou na sua alma ardente foi Copacabana para desdita dos... tìmpanos de seus amigos.
Boa viagem e até à proxima."
O Pai (de chapeu) o Santana (no meio) em 1940