sábado, 14 de agosto de 2010

O(s) inferno(s)

Entre chamas e dilúvio, o diabo que escolha!
Há infernos e inferno. Eu escolhi este: “Nos tempos do início, na minha meninice na década de 60 (como hoje no tempo do sonho...), o meu pai parou comigo frente ao "Inferno" no Museu das Janelas Verdes (era assim que sempre o nomeávamos, e não como "de Arte Antiga"). (...)

3 comentários:

  1. Cara Helena, obrigado pelo link!...
    A temática é imensa e as ideias fervilham, recuperando memórias no braseiro incandescente dos abismos do Ser. Empédocles, o velho xamã, atirou-se para a boca de um vulcão...; o tema associado da metalurgia e das ambiguidades simbólicas dos ferreiros (Caim foi o primeiro a submeter o metal) é igualmente fértil. Mas um dos tópicos sem o qual a dissertação não ficaria completa é o da tortura. Naquela tela, há pessoas a serem torturadas, penduradas de cabeça para baixo, ardendo em fogo lento, etc. Creio que hoje, com o tipo de séries de desenhos animados e filmes que todos os miúdos vêem, esta tela já não teria o efeito que terá tido, talvez, noutras gerações de crianças. Creio que é de sublinhar não só que a morte e o sofrimento existem mas, sobretudo, que há castigos que consistem em infligir sofrimento a pessoas indefesas. Fica em suspensão, entre parênteses, aquilo que de mais humano julgamos haver na humanidade. E aqui começam as questões verdadeiramente interessantes, para além da contingência biográfica que motiva a reflexão.
    Beijos

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  2. Caro Francisco,
    Li a sua magnífica dissertação com muita atenção.
    Imagino muito bem a impressão que o "Inferno" lhe causou e já percebi o horror que tem a “outros infernos” menos espectaculares...

    Os meus medos começaram por volta dos seis anos quando vi o inferno em desenho no livro de catecismo!
    O meu pai pediu ao capelão da Taipa, um velho padre de batina e chapeu, para nos dar aulas de catequese em casa. O sr. padre ia uma vez por semana, à tarde, e começava por lanchar (invariávelmente refresco de café com limão e bolachas de água e sal com manteiga) antes de nos ensinar a sermos "boas meninas". A minha irmã ouvia (e aprendia) tudo religiosamente. Eu bocejava, coçáva-me, perguntava todos os dois minutos quando é que podia ir brincar. Por não ter aprendido a vida de Jesus e as orações de cor, o sr. padre, com sermões e ameaças de inferno, privou-me de primeira comunhão, o que na altura, não me afetou nada. O grande dia chegou. A Sé de Macau estava cheia de senhores e senhoras vestidos de domingo. As mães, de chapéu, acompanhavam, orgulhosas, as filhas com longos e rodados vestidos de “organdi” branco e véus de tule com rendas e lacinhos. Quando vi a minha irmã Isabel "vestida de noiva" fiquei “de trombas”, fiz birra, chorei que me fartei e ainda levei uns tabefes para me calar!

    O inferno, o verdadeiro, é este mundo palco das maiores atrocidades, infligidas a pessoas indefesas e inocentes, a que assistimos sem ficar, aparentemente, apavorados.
    Bem haja querido primo.

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  3. Adorei esta sua narrativa! Fez-me sorrir pela manhã, a imagem do seu desinteresse pela "vida de Jesus e as orações", bocejando e coçando-se... Eu escapei-me da educação religiosa, pois o meu pai era um ateu fervoroso, tal como o meu avô. Mas fui baptizado, que a isso raramente se escapava...

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