sábado, 26 de março de 2011

"...Amor com maior beleza e imaginação"

José Cardoso Pires por Júlio Pomar
(...)
«A luta política, aquela que vai às raízes, entenda-se, é uma técnica de construir a felicidade. O livro e a arte enriquecem o homem, é certo; mas não é menos certo que não se pode escrever ou desenhar a palavra Amor, indiferente às vítimas do ódio que nos rodeiam ou ignorando as desigualdades e os pavores. Se hoje o meu, o nosso orgulho de cidadãos é o de, pela primeira vez, podermos adormecer com a consciência de que ninguém neste país está a ser torturado, isso só exige que defendamos esse privilégio com vigilância dobrada e que escrevamos a tal palavra Amor com maior beleza e imaginação.(...)
de José Cardoso Pires numa homenagem a José Dias Coelho realizada em 19 de Junho de 1974 na SNBA

3 comentários:

  1. Grandes palavras e uma pintura cheia de força.

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  2. "A luta política, aquela que vai às raízes, entenda-se, é uma técnica de construir a felicidade"
    O Zé tinha tanta razão!
    Obrigada Jorge!

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  3. ... tal como escreveu Stéphane Hessel no final do seu manifesto pela indignação:

    « le nazisme est vaincu, grâce au sacrifice de nos frères et soeurs de la Résistance et des Nations unies contre la barbarie fasciste. Mais cette menace n'a pas totalement disparu et notre colère contre l'injustice est toujours intacté ».
    Non, cette menace n'a pas totalement disparu. Aussi, appelons-nous toujours à « une véritable insurrection pacifique contre les moyens de communication de masse qui ne proposent comme horizon pour notre jeunesse que la consommation de masse, le mépris des plus faibles et de la culture, l'amnésie généralisée et la compétition à
    outrance de tous contre tous.»

    É como diz, Helena: "O Zé tinha tanta razão"... Por isso, também o apelo «CRIAR É RESISTIR, RESISTIR É CRIAR»

    Admirável, a esperança de um homem de 93 anos. Por cá, deixou de ser possível. Escreveu Sérgio Lavos no ARRASTÃO:

    «Em vez de procurarmos acabar com aquilo que atrasa o país - o desenrascanço, a economia paralela, a fuga aos impostos, o clientelismo, a corrupção - achamos que, se não imitarmos os hábitos de quem se dedica à ilegalidade, nunca chegaremos a lado nenhum. Não valorizamos a honestidade, a criatividade, a frontalidade. A classe política não é melhor do que a média nacional, mas lida com mais poder. E o poder, como se sabe, corrompe - ainda mais. A cada mudança de governo, a mesma dança ensaiada pelos boys, de cadeira em cadeira. A administração pública funciona mal, mas ninguém tem interesse em mexer com este estado de coisas. Todos os anos, há milhares de concursos públicos no país que já têm o lugar preenchido à partida, para um amigo, um parente, um membro do partido. Toda a gente sabe disto, mas ninguém parece importar-se muito. Cada legislatura é uma oportunidade de ouro para os partidos da tríade do sistema semearem os seus homens de mão nas maiores empresas, que por sua vez esperam pela migalha que a influência destes homens do aparelho lhes trará. A promiscuidade entre Estado e grandes empresas privadas é um hábito antigo, um conforto, uma coisa que todos acham normal. Estamos habituados a reeleger políticos que estão a ser investigados, a aceitar que a mão da justiça não chegue a todos da mesma maneira, a perdoar quem pertence ou fareja o poder.
    (...) Será impossível acontecer por cá o que sucedeu na Irlanda, onde um partido que nunca tinha ganho eleições chegou ao poder, ou na Islândia, entregue ao poder, literalmente, do povo, e não a uma elite financeiro-partido-empresarial, a elite que levou à crise global, e que, apesar de todas as promessas em contrário, tenta reforçar a sua posição durante este período conturbado. É o que temos. Quando a farsa em que julgamos viver se revelar uma verdadeira tragédia, não nos queixemos: temos o que merecemos, essa é a essência da democracia.»...

    Beijinhos

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