Querida Helena, vamos falar de números...? Em 2009, Teixeira dos Santos garantia um défice inferior a 6,9%: ficou perto dos 10%. Em 2010, estava orçamentado a execussão do défice em 6,8%, mais tarde o governo corrigiu para 7,3%, ontem o Eurostat afirmou que será de 8,6% (PEC incluídos). Mais, em cinco anos a divída externa duplicou para 100% do PIB.
Agradeço o seu comentário, e partilho inteiramente o sentimento dos portugueses que se sentem enganados pelo(s) discurso(s) e pela "fuite en avant" (ao ponto a que chegou a pressão da comissão europeia e a dos mercados, teriam outra solução?) do eng. Sócrates. Contudo, transcrevo este artigo do “Publico” que esclarece as causas do aumento dos números que indica:
“Os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística confirmam que a inclusão das imparidades do BPN nas contas públicas e a inclusão no perímetro das Administrações Públicas de três empresas de transporte - a Refer, o Metro de Lisboa e o Metro do Porto - tiveram um impacto nos valores do défice e da dívida que são entregues a Bruxelas. A execução das garantias do BPP também teve impacto negativo. Sem a inclusão destes dados, o défice teria sido de 6,8 por cento, faz questão de afirmar o INE no seu comunicado à imprensa. O INE precisa que, no caso da inclusão das empresas públicas (exigida pelo Eurostat), a revisão das contas tem impactos a partir do ano 2007. Para o ano de 2007, o efeito é de um acréscimo de 793 milhões de euros no défice, ou seja, mais 0,5 pontos percentuais. No que diz respeito às imparidades do BPN, o impacto negativo é de 1800 milhões de euros, cerca de um ponto percentual do PIB. O registo da execução das garantias do BPP custou ao défice mais 450 milhões de euros, ou seja, cerca de 0,3 pontos percentuais do PIB. A dívida pública também foi afectada por estes factores e saltou para os 92,4 por cento do PIB em 2010. O INE explica ainda que "recebeu uma Visita Diálogo do Eurostat nos dias 17 e 18 de Janeiro deste ano" e que "esta notificação reflecte, em parte, os resultados deste diálogo". Para 2011, o Governo mantém uma previsão para o défice de 4,6 por cento e coloca agora a dívida pública já próximo dos 100 por cento do PIB, em 97,3 por cento.”
E já agora, junto este comentário de um leitor:
“É curioso que algumas pessoas que aqui comentam só se recordam do que lhes interessa... Vamos então ver. Causas apontadas pelo INE: BPN, Refer, Metro Lisboa e Metro Porto. Até aqui tudo em ordem. Mas analisemos melhor. BPN - buraco criado pelos amigos do senhor Aníbal Cavaco Silva (PSD) e que estiveram na Comissão de Honra do dito cujo para a Presidência da República (apoiada pelo PSD9. Metro Porto - gerida por senhores como Rui Rio (PSD), Valentim Loureiro (PSD) e Marco António Costa (PSD). É fácil atirar areia para os olhos mas quando se começa a escavar a «água» vem ao de cima. P.S.: O Governo fez com o BPN o que qualquer Governo responsável teria de fazer: tentar tapar o buraco! Imaginam o que seria se o BPN ia à falência? Para além de prejudicar milhares de clientes teria um efeito dominó sobre os outros bancos e criava uma onda de pânico entre a população. Aí sim, estaríamos na mesma situação que a Irlanda (sim, porque são situações diferentes).” link para este artigo: http://publico.pt/1487656
A Querida Helena "sabe que eu sei" que o aumento do défice tem a ver com a forma de contabilização destes itens, mas o governo, por maioria de razão, deveria saber que seriam assim que os buracos financeiros eram contabilizados mas disse aos portugueses o contrário. Toda a oposição (da esquerda à direita) já tinha alertado. E como prova de que não foi agora que as regras mudaram, veja por favor aqui no DE:
«Os critérios já existiam desde Fevereiro de 2000.
As regras de contabilização que fizeram disparar os défices orçamentais desde 2007 não são novas e já eram conhecidas. A garantia foi dada pelo Eurostat - o gabinete de estatísticas europeu - ao Diário Económico e contradiz o argumento utilizado ontem por Teixeira dos Santos para justificar o défice de 2010 acima do prometido.
"São alterações metodológicas", justificou o ministro das Finanças, depois de ser conhecida a revisão em alta operada pelo Eurostat e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ao buraco orçamental do ano passado. "É mudar o marcador muito depois do jogo ter acabado", defendeu, lembrando que sem estas modificações o défice de 2010 teria ficado em 6,8%, abaixo da meta de 7,3% que tinha sido prometida ao país, a Bruxelas e aos mercados, e indo ao encontro das expectativas criadas mais recentemente.
Teixeira dos Santos argumentou ainda que o mesmo aconteceu à Áustria e à Alemanha. De acordo com a Bloomberg, o défice austríaco foi ontem revisto em alta para 4,6% do PIB, também na sequência de conversações com o Eurostat.
No caso português está em causa a inclusão de três empresas públicas de transporte nas contas do défice, o impacto dos prejuízos do BPN e a execução de garantias dadas pelo Estado ao BPP. Estes três efeitos fizeram o défice disparar 1,8 pontos do PIB, subindo para 8,6%.
Contactado pelo Diário Económico, o Eurostat garantiu que as regras são as mesmas, tendo sido antes a situação económica das empresas públicas que mudou. "As regras são estáveis", disse fonte oficial do Eurostat. "Mas as contas das empresas públicas podem mudar rapidamente, sobretudo num período de crise económica", frisou a mesma fonte, explicando que é isso que "torna necessário rever a classificação destas empresas regularmente".»
Outra nota: Tomara nós estarmos na posição irlandesa. Porquê? Porque assumiram o resgate do Anglo Irish Bank no ano passado e contabilizaram-no no défice, tendo este chegado aos 32%! Ou seja, cumpriram as regras do Eurostat, não mentiram aos cidadãos e pediram ajuda ao FEEF. Com esta clarificação e com a assunção do anterior governo dos erros cometidos, a oposição dispôs-se a ajudar o governo, corresponsabilizando-se perante o povo e exigiu novas eleições. Estão no caminho certo porque as perspectivas de crescimento económico são grandes na medida em que o endividamento não é estrutural. A este respeito vale ainda ouvir a Estela Barbot do FMI:
É um desabafo vindo da única portuguesa que é conselheira do Fundo Monetário Internacional. Estela Barbot lamenta que «o país não tenha feito o que era necessário para que a situação não se tivesse degradado tanto». Agora, a solução passa só pela «ajuda externa». Ou isso, ou «um milagre».
O quadro é tão negro que neste momento «o estado das finanças públicas portuguesas representa uma ameaça para o Estado social», disse em entrevista à TSF. Num beco sem saída, o país não tem por isso outra alternativa senão pedir ajuda.
«O acumular do défice sem uma redução efectiva dos custos» foi ainda criticado por esta conselheira do FMI que deixou ainda um apelo a Portugal: o país deve «acertar medidas de consenso entre todos para dar uma imagem diferente do país lá fora».
(Um apelo que dou como certo: que nunca nos chateemos por esta diferença de visões, Amiga Helena:)
Nem me passou pela cabeça tal hipótese! Tenho muitos bons amigos e amigas que teem opiniões diferentes das minhas e só lamento não podermos "discutir" estes -ou outros- assuntos frente-a-frente:). Eu sei que o Paulo sabe que eu sei e eu sei que sabemos os dois... ainda bem!
Ah! também sei que tiveram um dia de sol lindo e que amanhã ele vai aparecer por aqui. Bom fim de semana! Beijinhos
Por cá, infelizmente, a formatação da opinião e o condicionamento ideológico promovido pelos media (vide o apelo claro de Stéphane Hessel a esse propósito) continua fazer silêncio sobre o modo pelo qual a Islândia resolveu os seus problemas e saiu da recessão (vide http://www.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao). Nós cá só acreditamos na austeridade que nos querem fazer passar por solução milagrosa para os nossos problemas e, em conformidade, preparamos-nos para umas eleições onde o futuro primeiro ministro teve há poucos dias a lata de afirmar que só chumbou o PEC4 porque não foi tão longe quanto devia nas medidas de austeridade. Entretanto, a AMI, a Igreja e as organizações humanitárias no terreno fizeram saber que 2010 foi o pior ano de aumento da pobreza em Portugal - o mesmo ano em que os lucros da GALP subiram 43%, os da BRISA 420%, da Jerónimo Martins 40%, da Corticeira Amorim 302%, etc... Para além de sermos o segundo país mais desigual da Europa, somos também o que regista a segunda mais baixa taxa de natalidade europeia. Mas os resultados das eleições serão claros: em laranja ou em rosa, teremos mais do mesmo e o contributo das empresas lucrativas para nos ajudar a sair da crise é o que se sabe: só na zona franca da Madeira, das 3000 empresas instaladas, só 50 pagaram IRC e como é sabido, a PT, que teve em 2010 os seus melhores resultados de sempre (5600 milhões de euros) distribuiu antecipadamente os dividendos aos accionistas, para que se escusar ao pagamento de impostos. Até Mário Soares e Freitas do Amaral, num recente frente a frente, concordaram na vergonha imoral dos chamados "mercados" e das agências de rating que acabam de nos reduzir a lixo. Não tenhamos ilusões. A solução portuguesa é conhecida há muito pelo povo: face a elites que não prestam e à mais aviltante mediocridade do nosso capitalismo, resta-nos, como sempre, a emigração. Hoje, a sangria de gentes é comparável à do período que se seguiu ao ultimatum inglês de 1890. Os agiotas, a corrupção e o roubo, estão na mesma ou pior. A irracionalidade e o condicionamento promovido pela sociedade do espectáculo através, sobretudo, das televisões e do seu falso pluralismo impedem-nos de ver o saque em curso, por excesso de visibilidade - como quando não vemos a floresta por causa das árvores; como, por exemplo, nos recusamos a ver os negócios de armamento impostos à Grécia desde que entrou em crise... Ou quando não nos é permitido ver nos noticiários o modo como os islandeses fizeram um valente manguito aos credores e despediram todos os que no sistema financeiro, foram responsáveis pelo saque. Mas nós sofremos, calamos e votamos sempre nos nossos carrascos. Temos a democracia que merecemos... É nosso fatum...
O céu é o limite.
ResponderEliminarOh! Jorge, se tu estás tão pessimista, como estarão os outros?
ResponderEliminarQuerida Helena, vamos falar de números...?
ResponderEliminarEm 2009, Teixeira dos Santos garantia um défice inferior a 6,9%: ficou perto dos 10%.
Em 2010, estava orçamentado a execussão do défice em 6,8%, mais tarde o governo corrigiu para 7,3%, ontem o Eurostat afirmou que será de 8,6% (PEC incluídos). Mais, em cinco anos a divída externa duplicou para 100% do PIB.
Querido Paulo,
ResponderEliminarAgradeço o seu comentário, e partilho inteiramente o sentimento dos portugueses que se sentem enganados pelo(s) discurso(s) e pela "fuite en avant" (ao ponto a que chegou a pressão da comissão europeia e a dos mercados, teriam outra solução?) do eng. Sócrates. Contudo, transcrevo este artigo do “Publico” que esclarece as causas do aumento dos números que indica:
“Os dados hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística confirmam que a inclusão das imparidades do BPN nas contas públicas e a inclusão no perímetro das Administrações Públicas de três empresas de transporte - a Refer, o Metro de Lisboa e o Metro do Porto - tiveram um impacto nos valores do défice e da dívida que são entregues a Bruxelas. A execução das garantias do BPP também teve impacto negativo. Sem a inclusão destes dados, o défice teria sido de 6,8 por cento, faz questão de afirmar o INE no seu comunicado à imprensa.
O INE precisa que, no caso da inclusão das empresas públicas (exigida pelo Eurostat), a revisão das contas tem impactos a partir do ano 2007. Para o ano de 2007, o efeito é de um acréscimo de 793 milhões de euros no défice, ou seja, mais 0,5 pontos percentuais. No que diz respeito às imparidades do BPN, o impacto negativo é de 1800 milhões de euros, cerca de um ponto percentual do PIB. O registo da execução das garantias do BPP custou ao défice mais 450 milhões de euros, ou seja, cerca de 0,3 pontos percentuais do PIB.
A dívida pública também foi afectada por estes factores e saltou para os 92,4 por cento do PIB em 2010.
O INE explica ainda que "recebeu uma Visita Diálogo do Eurostat nos dias 17 e 18 de Janeiro deste ano" e que "esta notificação reflecte, em parte, os resultados deste diálogo".
Para 2011, o Governo mantém uma previsão para o défice de 4,6 por cento e coloca agora a dívida pública já próximo dos 100 por cento do PIB, em 97,3 por cento.”
E já agora, junto este comentário de um leitor:
“É curioso que algumas pessoas que aqui comentam só se recordam do que lhes interessa... Vamos então ver. Causas apontadas pelo INE: BPN, Refer, Metro Lisboa e Metro Porto. Até aqui tudo em ordem. Mas analisemos melhor. BPN - buraco criado pelos amigos do senhor Aníbal Cavaco Silva (PSD) e que estiveram na Comissão de Honra do dito cujo para a Presidência da República (apoiada pelo PSD9. Metro Porto - gerida por senhores como Rui Rio (PSD), Valentim Loureiro (PSD) e Marco António Costa (PSD). É fácil atirar areia para os olhos mas quando se começa a escavar a «água» vem ao de cima. P.S.: O Governo fez com o BPN o que qualquer Governo responsável teria de fazer: tentar tapar o buraco! Imaginam o que seria se o BPN ia à falência? Para além de prejudicar milhares de clientes teria um efeito dominó sobre os outros bancos e criava uma onda de pânico entre a população. Aí sim, estaríamos na mesma situação que a Irlanda (sim, porque são situações diferentes).”
link para este artigo: http://publico.pt/1487656
A Querida Helena "sabe que eu sei" que o aumento do défice tem a ver com a forma de contabilização destes itens, mas o governo, por maioria de razão, deveria saber que seriam assim que os buracos financeiros eram contabilizados mas disse aos portugueses o contrário. Toda a oposição (da esquerda à direita) já tinha alertado. E como prova de que não foi agora que as regras mudaram, veja por favor aqui no DE:
ResponderEliminar«Os critérios já existiam desde Fevereiro de 2000.
As regras de contabilização que fizeram disparar os défices orçamentais desde 2007 não são novas e já eram conhecidas. A garantia foi dada pelo Eurostat - o gabinete de estatísticas europeu - ao Diário Económico e contradiz o argumento utilizado ontem por Teixeira dos Santos para justificar o défice de 2010 acima do prometido.
"São alterações metodológicas", justificou o ministro das Finanças, depois de ser conhecida a revisão em alta operada pelo Eurostat e pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ao buraco orçamental do ano passado. "É mudar o marcador muito depois do jogo ter acabado", defendeu, lembrando que sem estas modificações o défice de 2010 teria ficado em 6,8%, abaixo da meta de 7,3% que tinha sido prometida ao país, a Bruxelas e aos mercados, e indo ao encontro das expectativas criadas mais recentemente.
Teixeira dos Santos argumentou ainda que o mesmo aconteceu à Áustria e à Alemanha. De acordo com a Bloomberg, o défice austríaco foi ontem revisto em alta para 4,6% do PIB, também na sequência de conversações com o Eurostat.
No caso português está em causa a inclusão de três empresas públicas de transporte nas contas do défice, o impacto dos prejuízos do BPN e a execução de garantias dadas pelo Estado ao BPP. Estes três efeitos fizeram o défice disparar 1,8 pontos do PIB, subindo para 8,6%.
Contactado pelo Diário Económico, o Eurostat garantiu que as regras são as mesmas, tendo sido antes a situação económica das empresas públicas que mudou. "As regras são estáveis", disse fonte oficial do Eurostat. "Mas as contas das empresas públicas podem mudar rapidamente, sobretudo num período de crise económica", frisou a mesma fonte, explicando que é isso que "torna necessário rever a classificação destas empresas regularmente".»
Outra nota: Tomara nós estarmos na posição irlandesa. Porquê? Porque assumiram o resgate do Anglo Irish Bank no ano passado e contabilizaram-no no défice, tendo este chegado aos 32%! Ou seja, cumpriram as regras do Eurostat, não mentiram aos cidadãos e pediram ajuda ao FEEF. Com esta clarificação e com a assunção do anterior governo dos erros cometidos, a oposição dispôs-se a ajudar o governo, corresponsabilizando-se perante o povo e exigiu novas eleições. Estão no caminho certo porque as perspectivas de crescimento económico são grandes na medida em que o endividamento não é estrutural. A este respeito vale ainda ouvir a Estela Barbot do FMI:
É um desabafo vindo da única portuguesa que é conselheira do Fundo Monetário Internacional. Estela Barbot lamenta que «o país não tenha feito o que era necessário para que a situação não se tivesse degradado tanto». Agora, a solução passa só pela «ajuda externa». Ou isso, ou «um milagre».
O quadro é tão negro que neste momento «o estado das finanças públicas portuguesas representa uma ameaça para o Estado social», disse em entrevista à TSF. Num beco sem saída, o país não tem por isso outra alternativa senão pedir ajuda.
«O acumular do défice sem uma redução efectiva dos custos» foi ainda criticado por esta conselheira do FMI que deixou ainda um apelo a Portugal: o país deve «acertar medidas de consenso entre todos para dar uma imagem diferente do país lá fora».
(Um apelo que dou como certo: que nunca nos chateemos por esta diferença de visões, Amiga Helena:)
Como esta agradável troca de impressões é neste primeiro dia de Abril, quem me dera que nenhum de nós tivesse razão.
ResponderEliminarBeijinho amigo, Paulo
Querido Paulo,
ResponderEliminarNem me passou pela cabeça tal hipótese! Tenho muitos bons amigos e amigas que teem opiniões diferentes das minhas e só lamento não podermos "discutir" estes -ou outros- assuntos frente-a-frente:).
Eu sei que o Paulo sabe que eu sei e eu sei que sabemos os dois... ainda bem!
Ah! também sei que tiveram um dia de sol lindo e que amanhã ele vai aparecer por aqui.
Bom fim de semana!
Beijinhos
Por cá, infelizmente, a formatação da opinião e o condicionamento ideológico promovido pelos media (vide o apelo claro de Stéphane Hessel a esse propósito) continua fazer silêncio sobre o modo pelo qual a Islândia resolveu os seus problemas e saiu da recessão (vide http://www.ionline.pt/conteudo/113267-islandia-o-povo-e-quem-mais-ordena-e-ja-tirou-o-pais-da-recessao). Nós cá só acreditamos na austeridade que nos querem fazer passar por solução milagrosa para os nossos problemas e, em conformidade, preparamos-nos para umas eleições onde o futuro primeiro ministro teve há poucos dias a lata de afirmar que só chumbou o PEC4 porque não foi tão longe quanto devia nas medidas de austeridade. Entretanto, a AMI, a Igreja e as organizações humanitárias no terreno fizeram saber que 2010 foi o pior ano de aumento da pobreza em Portugal - o mesmo ano em que os lucros da GALP subiram 43%, os da BRISA 420%, da Jerónimo Martins 40%, da Corticeira Amorim 302%, etc... Para além de sermos o segundo país mais desigual da Europa, somos também o que regista a segunda mais baixa taxa de natalidade europeia. Mas os resultados das eleições serão claros: em laranja ou em rosa, teremos mais do mesmo e o contributo das empresas lucrativas para nos ajudar a sair da crise é o que se sabe: só na zona franca da Madeira, das 3000 empresas instaladas, só 50 pagaram IRC e como é sabido, a PT, que teve em 2010 os seus melhores resultados de sempre (5600 milhões de euros) distribuiu antecipadamente os dividendos aos accionistas, para que se escusar ao pagamento de impostos. Até Mário Soares e Freitas do Amaral, num recente frente a frente, concordaram na vergonha imoral dos chamados "mercados" e das agências de rating que acabam de nos reduzir a lixo. Não tenhamos ilusões. A solução portuguesa é conhecida há muito pelo povo: face a elites que não prestam e à mais aviltante mediocridade do nosso capitalismo, resta-nos, como sempre, a emigração. Hoje, a sangria de gentes é comparável à do período que se seguiu ao ultimatum inglês de 1890. Os agiotas, a corrupção e o roubo, estão na mesma ou pior. A irracionalidade e o condicionamento promovido pela sociedade do espectáculo através, sobretudo, das televisões e do seu falso pluralismo impedem-nos de ver o saque em curso, por excesso de visibilidade - como quando não vemos a floresta por causa das árvores; como, por exemplo, nos recusamos a ver os negócios de armamento impostos à Grécia desde que entrou em crise... Ou quando não nos é permitido ver nos noticiários o modo como os islandeses fizeram um valente manguito aos credores e despediram todos os que no sistema financeiro, foram responsáveis pelo saque. Mas nós sofremos, calamos e votamos sempre nos nossos carrascos. Temos a democracia que merecemos... É nosso fatum...
ResponderEliminarBeijinhos