sexta-feira, 1 de junho de 2012

O último voo do Gibi


Foi no Algarve, e não em Lourenço Marques onde nasceu, nem em Lisboa onde estudou e começou a voar, nem no Luxemburgo onde trabalhou durante quase três décadas, que o Gibi escolheu para gozar a merecida reforma. Um linfoma trocou-lhe os planos. 

Manuel Vaz Palma, "o Gibi", alcunha que lhe deram quando entrou para os Pupilos, foi colega dos meus irmãos e o primeiro namorado da minha irmã. O namoro não acabou em casamento mas o Gibi ficou para sempre grande amigo da família.

A primeira vez que sobrevoei o Guincho foi num PIPPER (ou num CESSNA?) pilotado pelo Gibi.

O primeiro gira-discos e os primeiros 45 rotações do Elvis e dos Beatles que entraram na Casa da Lapa foram presentes do Gibi.
Os nossos primeiros bailes e "assaltos" carnavalescos, em casa de uns e outros, foram orquestrados pelo Gibi que nos apresentou o Graciano, o Zé Alexandre, o Agostinho, o Ruca, o Carlos, o Álvaro e outros que esqueci. A esse grupo juntaram-se colegas e amigas da minha e irmã e minhas. Éramos, salvo raras excepções, todos filhos e filhas de militares. A maior parte dos nossos pais estavam, nesses tempos, em "comissão de serviço" nas colónias. Anos depois, a maioria dos rapazes foi mobilizada para Moçambique, Angola e Guiné. Trocamos aerogramas e fotografias e votos de nos revermos em breve.

A minha irmã casou-se, eu fui para Londres, outros dispersaram-se pelo mundo. Alguns, poucos, revi depois do 25 de Abril.

Há dois anos, a minha irmã e o Gibi organizaram um almoço dos alumni dos colégios de Benfica, da Luz e de Odivelas. Os poucos presentes não se havia visto há mais de trinta anos!

O Gibi estava doente. O cancro minou-lhe os restantes anos de vida. Ele descolou, pela ultima vez, não do ACP de Tires mas do Hospital de Faro.

Da nossa amiga Conceição recebi esta mensagem:

"Morreu o Gibi. Aquele que me levou a voar, a mim pequeníssima de medo na avioneta sobre o Guincho e o Cabo Espichel e por aí. "Não devemos enganar-nos no Destino", ouvi eu  mais tarde no "Lola Montez" do Marc Ophuls. Mas como perceber tão antes tudo isso ? Tantos anos sem nos vermos. A ele. E a todos os que eram aquele mundo, tanta luz no meio de tanto escuro. Não devemos enganar-nos no Destino. Quem se enganou - todos eles, ou toda eu ? Querido, doce Gibi. Querido, doce tempo, lágrimas que caem por ti, por mim, por todos nós. Morre contigo aquele tempo de mim e do que era para mim  aquela luz, aqueles amigos.  A tua morte é aquela morte de nós. Que mágoa, das entranhas ao estômago e aos olhos . Cheers JB ! E que superficial que isto soa, mesmo ao som dos Led Zeppelin". CGS

 
Não pude ir ontem despedir-me do Gibi mas deixo, aqui, à São, que o acompanhou até ao ultimo momento, aos filhos, à Mena, ao Tom e restante família, um grande e forte abraço.

5 comentários:

  1. Abraço também para a minha Amiga. Grande abraço.

    ResponderEliminar
  2. Ainda há dias falamos dele.... Beijos para ti

    ResponderEliminar
  3. O VOSSO GIBI

    Chega do sul um vento manso e morno
    favorável ao voo rasante que traçaste
    antes de partir...

    Cada vez que um Gibi "nosso" se despede
    deixa um amargo de boca
    a nostalgia do tempo em que a morte não existia
    ou era coisa pouca
    em que se partia sempre pra voltar

    apaga-se em nós
    uma pequena estrela
    acende-se outra no céu
    fica na memória a descoberta
    a ousadia a música a festa e o assalto

    ficam os abraços os acenos
    e a saudade, claro, a saudade
    de um GIBI que viveu muito porque voou mais alto...

    ResponderEliminar
  4. Depois
    do recolhimento para hibernar finalmente
    ficamos só Nós
    cada um sózinho Contigo
    E Tu
    Já és tudo,
    O sol, o mar a terra
    A alegria intensa que passou a serena
    liberdade amada sem medo da perda
    sonho conseguido
    como troféu da nossa alma
    É
    Afinal é aqui que o turbilhão Jaz
    Sorri connosco
    Do teu descanso, agora em Paz.

    [Abraço para Si Helena]

    ResponderEliminar
  5. Óptimo que partilhaste com o teu mundo-blog a minha mágoa no dia em que ele morreu. No funeral, naquele quentíssimo e meio-mexicano cemitério do Azinhal, eu lembrei-me do Pedro Páramo e da conversa colectiva entre os mortos lá debaixo da terra que o Juan Rulfo escreveu como ninguém.E eu continuei aquela discussão interminável que sempre tive com ele "Porque te chamam Gibi se te puseram o nome por amares o teu JB ? Devias ser JeiBi, meu caramelo!" Desta vez, dele só ouvi a terra sobre o pinho. Um beijo "mana" Helena.

    ResponderEliminar