quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O comandante é o último a abandonar o navio

O "Costa Concordia" na noite de 16 de janeiro 2012. Foto de Max Rossi/REUTERS

"Habituados como estamos a que as televisões nos sirvam mortos e estropiados entre a sopa e o puré, políticos corruptos à sobremesa e catástrofes ambientais ao café, poucas notícias nos fazem já levantar a sobrancelha ou interromper um monocórdico "passa o sal". Mas hoje foi um desses dias de surpresa, de inusitada novidade: hoje assistimos, estarrecidos, à indesmentível cobardia de um comandante, chamado à pedra com todas as letras e aos berros por um capitão de porto. Mais do que confrangedora, é revoltante a choraminguice desorientada de um adulto que não só atira um paquete de cruzeiro para cima das rochas e descarta de imediato as suas responsabilidades no desastre, como ainda tenta salvar-se antes de todos os que deveria proteger e ajudar.

Enquanto assisto à gritaria, que desmascara aquela indigência como uma fractura exposta à vista do mundo inteiro, fico a pensar na família que este homem há-de ter algures, e na vergonha que essa família deve estar a sentir neste momento. Não sei quantas provas dadas e anos de carreira são precisos para se chegar ao importante posto de comandante de um navio que transporta milhares de passageiros, mas sei que alguma coisa de muito grave falhou neste caso. É evidente que esta criatura não tem perfil para honrar a mais básica - mas também a mais sagrada - de todas as regras da marinha: o comandante é o último a abandonar o navio. Não só não o fez, fugindo apavorado para dentro do primeiro bote que apanhou enquanto velhos e crianças morriam à sua volta, como ainda mentiu sobre a sua conduta miserável. A coragem física e moral só nestes momentos se revela inteiramente, mas é um atributo que deve ser previsível. Que este caso sirva de exemplo a quem treina e promove estes homens: uma farda de comandante tem de ser muito mais do que um instrumento de charme para a fotografia num cruzeiro turístico".

Estou totalmente de acordo com este excelente texto de Ana Vidal publicado no Delito de Opinião

3 comentários: