domingo, 17 de junho de 2012

Duas, três-e-mais-coisas bem ditas



"(...) Na intervenção com que concluí uma das sessões, deixei clara a minha perspetiva de que a emigração por motivos económicos é sempre trágica, porque não é mais do que a constatação da incapacidade do país de proporcionar condições de vida decente a quem nele nasceu. O normal é um cidadão poder realizar-se, em pleno, sem ter de sair do seu país. Às vezes, fica a impressão de que os portugueses têm uma espécie de tropismo identitário para emigrarem, que isso já faz parte da sua natureza. Não nos iludamos e não confundamos os impulsos de aventura e de legítima ambição pessoal ou profissional com as rotas tristes da necessidade e da miséria. O que é uma evidência indiscutível é o facto de que, nos últimos dois séculos, o nosso país foi incapaz de sustentar um processo de progresso interno que desse oportunidade a muitos dos nossos compatriotas de, se assim o quisessem, se realizarem plenamente no seu seio. E, por isso, muitos foram obrigados a saír, por vezes em condições dramáticas, com percursos de vida frequentemente heróicos, dos quais o país se deve orgulhar muito, por tudo quanto esses compatriotas conseguiram fazer por si próprios e pela imagem de Portugal. Mas que, simultaneamente, Portugal também se deve envergonhar bastante, por aquilo que infelizmente lhes não soube proporcionar. Por muito que isso possa não ajudar ao nosso ego, Portugal foi e continua a ser, desde há muito, o país mais pobre da Europa ocidental. E, enquanto isso assim acontecer e não conseguirmos gerar, para todos, soluções decentes de vida, dentro das nossas fronteiras, uma parte de Portugal andará sempre numa viagem forçada pelo mundo."
Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal em França in "Duas ou Três Coisas"

1 comentário:

  1. É querida Helena, os domínios do sensivel para quem precisa de renunciar á riqueza afetiva junto da familia onde quer estar por prevenção da pobreza que se insinua e para sobreviver se é obrigado a evitar...

    Também concordo com a perspetiva do autor, claro sempre idónea.

    ResponderEliminar