""Outros Natais
... ou história de amor e derrocada"Revejo com pudor
a casa esventrada a meio da rua
e a bancada da cozinha seminua
que também era sala e aconchego
onde se comiam tremoços
se trocavam afectos
e se guardavam segredos
O vento deixado à solta
teima em desvendar
a velha toalha de oleado
com cerejas de todo o ano
ele construiu as prateleiras
ela coseu a renda ao pano
e fez as cortinas da janela
que depois debruou a sardinheiras
Foi num sábado de manhã
e no domingo seguinte
ele ouviu o relato
colado à telefonia
e ao fim do dia
a canja de aletria
cheirou mais forte
a hortelã
Quando ele lembrava
os pequenos amores da sua juventude
ela amuava...
e ele manhoso
fingia não entender
horas depois
ela sorrateira
corria a cortina da banheira
e ensaboava-lhe as costas devagar
e aquele olhar era tão sublime
que o seu corpo desarmado
se transformava em rochedo
em surdina chamava-lhe "magana"
...e nessa noite iam dormir mais cedo...
um dia a sua magana não acordou mais
e a toalha de oleado
foi guardando as migalhas dos dias
num vazio silencioso
desmazelado e frio
até que
(em vésperas de Natal)
velha e solidária
aquela casa ruiu
Temeu pela sua vida a vizinhança inteira
QUAL VIDA?
indiferente e desajeitado
acomodou-se na maca improvisada
nem um olhar de despedida
Ah...como ele sabia de cor e salteado
o som e a cor da derrocada""
Isabel Marques, Dezembro 2011
Que aldeia beirã é esta ?
ResponderEliminarNão sei o nome João, encontrei-a na net e escolhi-a porque penso ilustrar bem este lindo (mas triste) poema da minha amiga ERA UMA VEZ a quem agradeço mais uma vez.
ResponderEliminarPassei aqui outra vez e não encontrei o comentário que, na altura, escrevi. Provavelmente foi para o espaço ou então troquei as mãos pelo que, de novo, aqui quero deixar o meu apreço pelo belo poema da Isabel que Era(e é)-uma-Vez uma generosa poeta.
ResponderEliminarQuerida Um Jeito Manso,
ResponderEliminarAgradeço-lhe este (unico) comentario seu -a este post- que recebi e de imediato publiquei. "En revanche" o que escrevi para agradecer a ERA UMA VEZ, não apareceu... O Google faz-me partidas multiplas e deveras infelizes...
Este poema é lindo!
Obrigada a si e à Isabel!