quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

É meu amigo também

Zeca Afonso (2/8/1929 - 23/02/1987)

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

9 comentários:

  1. Desapareceu fisicamente, é certo, mas jamais morrerá ... sempre actuais os seus dizeres, os seus poemas, as suas músicas... Agosto o trouxe, Fevereiro o levou. Abril nos deixou ...

    ResponderEliminar
  2. Querida Helena

    Acabo de comentar na casa do nosso embaixador sobre o "espectáculo do Coliseu" onde não sei se também, como nós, a Helena esteve presente.
    Enquanto escrevia cantarolava este "amigo vem"...
    Qual não foi o meu espanto quando agora aqui cheguei e encontrei a letra toda...

    Para si, tenho outra memória que guardo dele.

    Na sua casa de Azeitão, já doente, era frequente ser visitado pelos muitos amigos que tinha.
    Íamos a passar de carro e ali estava ele no passeio com alguém conhecido mas que já não sei identificar.
    Saímos do carro e emocionada aproximei-me. Olha a Isabelinha, disse ele, sorriso trémulo mas sincero.
    Os meus dois filhos esperavam,tímidos, à minha frente.
    Filhos, este é o Sr. Dr. José Afonso, de quem os pais tanto falam.

    Então, ele soltou uma gargalhada, afagou-lhes a cabeça e disse:
    A tua mãe é tonta pá! Qual Doutor? Eu sou só o ZECA!!!
    Abraçou-os.
    A minha filha mais velha ficou deslumbrada.
    Alguns anos mais tarde (poucos) Zeca foi a enterrar aqui na cidade no maior funeral a que assisti.

    A minha filha, já a pensar no jornalismo, e fascinada por aquilo que conhecia, teimou em ir ao funeral, apesar de ter sido "proibida"pela sua melhor amiga...menina de uma família completamente anti democrática.

    O grave não foi perder a amiga de quem gostava tanto.

    A minha filha foi vítima de bulling, o grupo de amigos dividiu-se ao meio, sofrimento, revolta, foi mais do que um ano de tortura diária...até que, contrariando a sua vontade, telefonei à mãe da menina, disposta a tudo.

    Felizmente era uma senhora inteligente e a menina foi encostada à parede.E a menina lá parou.
    Mas ficaram marcas, marcas que levaram tempo a passar.
    Eu sei que parece incrível mas garanto-lhe que ACONTECEU.

    O Zeca só quis ser o Zeca e passar a mensagem em que acreditava.

    Na sua sepultura, apenas cravos e alecrim. Desde sempre...

    ResponderEliminar
  3. ERA UMA VEZ: o episódio da sua filha e do funeral do Zeca é medonho. Tenho algumas experiências semelhantes com um familiar, mas sem a gravidade que detecto nas suas palavras acerca desse ano de tormenta... Diga-me, por curiosidade: a sua filha e a amiga alguma vez reataram relações?

    ResponderEliminar
  4. Olá Francisco!

    Fico comovida por ter entendido...
    De facto, a menina parou com a tortura. Acho que a mãe, que já tinha estranhado a falta da minha filha lá em casa, obrigou-a a contar tudo. Penso que lhe terá dito o que ela precisava de ouvir e a seguir ligou-me a pedir desculpa e a pedir-me que lhe voltasse a falar ao mais pequeno sintoma.
    Depois cada uma seguiu para universidades e rumos diferentes...
    Não, nunca mais se aproximaram.

    Ficou a lição de vida e a perplexidade pelo que aconteceu.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  5. Ainda bem que a menina tinha uma mãe decente...
    A proliferação do bullying e de outras formas de violência e coacção física e psicológica entre crianças e adolescentes é, felizmente, cada vez mais notada. Poucos imaginam a extensão dos danos provocados por práticas de crueldade e de assédio... - a que, curiosamente, dantes ninguém ligava, incentivando-se até algumas delas. Quando penso nisso, ocorre-me sempre a expressão do Saramago: ...«esta merda a que chamam mundo"...

    ResponderEliminar
  6. Caro Francisco

    Tem toda a razão...
    Claro que ficaram marcas. Foi a primeira "rejeição"
    Tinham tantos planos juntas, de estudo, de futuro. E aos quinze anos é cedo demais para se ficar amarga, deprimida...e com medo de acreditar.
    Por muito que tenho conquistado nestes 25 anos, por muitos e bons amigos que tenha, quando alguém a desencanta...os sinais estão todos lá.

    E eu, sempre me culparei de não ter agido mais cedo. Por um lado ela não queria parecer "a menina da mamã" e por outro eu não imaginava que uma miúda inteligente e boa aluna, só por ter sido contrariada, fosse capaz de tão requintada e demorada tortura contra "a gaja comunista da nossa aula"
    Se continuo este assunto é porque, de facto, o bullying destrói vidas
    e temos de agir rapidamente e sem contemplações.
    Se não o fizermos, então seremos parte de um imenso "ensaio sobre a cegueira"

    ResponderEliminar
  7. ERA UMA VEZ, desculpe, esqueci-me de agradecer a gentileza comunicacional e retribuir os cumprimentos. Muito Obrigado!

    ResponderEliminar
  8. Caro Francisco

    Foi óptimo conversar consigo.Grande sensibilidade a sua.
    Cumprimentos também.

    ResponderEliminar