Zeca Afonso (2/8/1929 - 23/02/1987)
Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
Que belo post, Helena. Por tudo. Bjinhos
ResponderEliminarDesapareceu fisicamente, é certo, mas jamais morrerá ... sempre actuais os seus dizeres, os seus poemas, as suas músicas... Agosto o trouxe, Fevereiro o levou. Abril nos deixou ...
ResponderEliminarQuerida Helena
ResponderEliminarAcabo de comentar na casa do nosso embaixador sobre o "espectáculo do Coliseu" onde não sei se também, como nós, a Helena esteve presente.
Enquanto escrevia cantarolava este "amigo vem"...
Qual não foi o meu espanto quando agora aqui cheguei e encontrei a letra toda...
Para si, tenho outra memória que guardo dele.
Na sua casa de Azeitão, já doente, era frequente ser visitado pelos muitos amigos que tinha.
Íamos a passar de carro e ali estava ele no passeio com alguém conhecido mas que já não sei identificar.
Saímos do carro e emocionada aproximei-me. Olha a Isabelinha, disse ele, sorriso trémulo mas sincero.
Os meus dois filhos esperavam,tímidos, à minha frente.
Filhos, este é o Sr. Dr. José Afonso, de quem os pais tanto falam.
Então, ele soltou uma gargalhada, afagou-lhes a cabeça e disse:
A tua mãe é tonta pá! Qual Doutor? Eu sou só o ZECA!!!
Abraçou-os.
A minha filha mais velha ficou deslumbrada.
Alguns anos mais tarde (poucos) Zeca foi a enterrar aqui na cidade no maior funeral a que assisti.
A minha filha, já a pensar no jornalismo, e fascinada por aquilo que conhecia, teimou em ir ao funeral, apesar de ter sido "proibida"pela sua melhor amiga...menina de uma família completamente anti democrática.
O grave não foi perder a amiga de quem gostava tanto.
A minha filha foi vítima de bulling, o grupo de amigos dividiu-se ao meio, sofrimento, revolta, foi mais do que um ano de tortura diária...até que, contrariando a sua vontade, telefonei à mãe da menina, disposta a tudo.
Felizmente era uma senhora inteligente e a menina foi encostada à parede.E a menina lá parou.
Mas ficaram marcas, marcas que levaram tempo a passar.
Eu sei que parece incrível mas garanto-lhe que ACONTECEU.
O Zeca só quis ser o Zeca e passar a mensagem em que acreditava.
Na sua sepultura, apenas cravos e alecrim. Desde sempre...
ERA UMA VEZ: o episódio da sua filha e do funeral do Zeca é medonho. Tenho algumas experiências semelhantes com um familiar, mas sem a gravidade que detecto nas suas palavras acerca desse ano de tormenta... Diga-me, por curiosidade: a sua filha e a amiga alguma vez reataram relações?
ResponderEliminarOlá Francisco!
ResponderEliminarFico comovida por ter entendido...
De facto, a menina parou com a tortura. Acho que a mãe, que já tinha estranhado a falta da minha filha lá em casa, obrigou-a a contar tudo. Penso que lhe terá dito o que ela precisava de ouvir e a seguir ligou-me a pedir desculpa e a pedir-me que lhe voltasse a falar ao mais pequeno sintoma.
Depois cada uma seguiu para universidades e rumos diferentes...
Não, nunca mais se aproximaram.
Ficou a lição de vida e a perplexidade pelo que aconteceu.
Cumprimentos
Ainda bem que a menina tinha uma mãe decente...
ResponderEliminarA proliferação do bullying e de outras formas de violência e coacção física e psicológica entre crianças e adolescentes é, felizmente, cada vez mais notada. Poucos imaginam a extensão dos danos provocados por práticas de crueldade e de assédio... - a que, curiosamente, dantes ninguém ligava, incentivando-se até algumas delas. Quando penso nisso, ocorre-me sempre a expressão do Saramago: ...«esta merda a que chamam mundo"...
Caro Francisco
ResponderEliminarTem toda a razão...
Claro que ficaram marcas. Foi a primeira "rejeição"
Tinham tantos planos juntas, de estudo, de futuro. E aos quinze anos é cedo demais para se ficar amarga, deprimida...e com medo de acreditar.
Por muito que tenho conquistado nestes 25 anos, por muitos e bons amigos que tenha, quando alguém a desencanta...os sinais estão todos lá.
E eu, sempre me culparei de não ter agido mais cedo. Por um lado ela não queria parecer "a menina da mamã" e por outro eu não imaginava que uma miúda inteligente e boa aluna, só por ter sido contrariada, fosse capaz de tão requintada e demorada tortura contra "a gaja comunista da nossa aula"
Se continuo este assunto é porque, de facto, o bullying destrói vidas
e temos de agir rapidamente e sem contemplações.
Se não o fizermos, então seremos parte de um imenso "ensaio sobre a cegueira"
ERA UMA VEZ, desculpe, esqueci-me de agradecer a gentileza comunicacional e retribuir os cumprimentos. Muito Obrigado!
ResponderEliminarCaro Francisco
ResponderEliminarFoi óptimo conversar consigo.Grande sensibilidade a sua.
Cumprimentos também.