sexta-feira, 9 de março de 2012

Gratidão



"Dinheiro não devo e dispenso crédito, mas tenho dívidas. Dívidas de gratidão. É uma bela e longa lista, a dos que me mostraram caminho, deram a mão, protegeram, acudiram. Me salvaram dos outros e de mim próprio. Me disseram as palavras precisas nos momentos de raiva e desespero, livrando-me da cegueira, repondo-me nos carris donde mais de uma vez saltei.
Vejo-lhes as feições, recordo os momentos, são a galeria nobre onde encontro ânimo e estro. Sorrio a uns, a outros faço vénia, a uns quantos repito solene o meu obrigado. Foram  generosos, deixando-me aproveitar com a sua experiência, o seu saber, o conhecimento que tinham das gentes e da vida. Não fossem eles, e elas, eu há muito teria desaparecido num limbo de frustração, incertezas, desânimo.
São, como a família, aconchego e conforto, aquele porto de abrigo onde deitamos âncora, passada a tormenta da navegação." J. Rentes de Carvalho in TEMPO CONTADO

4 comentários:

  1. Belíssimo, não é? Adoro este senhor.

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  2. Também leio o Tempo Contado diariamente e gosto muito ...
    Tenho, assim, uma dívida de gratidão para com o Senhor Rentes de Carvalho.

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  3. importantíssimo, o elo humano que dá sentido e dignidade à nossa condição e que nos faz atribuir um sentido positivo e iluminador às dívidas de gratidão! Nem mais! Triste constatar que é esse elo, justamente, que hoje se vê acossado pela mercadorização de todas as coisas, pela precedência do consumidor/cliente, sobre a pessoa...
    (Estive num triplo evento em Lisboa com o Serge Latouche. Excelente. Bravo les objecteurs de croissance!...)

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  4. Que texto tão belo. Sempre me espanta e maravilha haver quem consiga escrever coisas tão belas, sentidas, profundas, carregadinhas de alma. Fabuloso.

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